No Reino da Palavra...

- Não grite.
Não permita que o seu modo de falar se
transforme em agressão.

- Conserve a calma.
Ao falar, evite comentários ou imagens
contrárias ao bem.

- Evite a maledicência.
Trazer assuntos infelizes à conversação,
lamentando ocorrências que já se foram, é requisitar
a poeira de caminhos já superados,
complicando paisagens alheias.

- Abstenha-se de todo adjetivo desagradável
para pessoas, coisas e circunstâncias.
Atacar alguém será destruir hoje o nosso
provável benfeitor de amanhã.

- Use a imaginação sem excesso.
Não exageres sintomas ou deficiências
com os fracos ou doentes, porque isso viria
fazê-los mais doentes e mais fracos.

- Responda serenamente em toda questão difícil.
Na base da esperança e bondade,
não existe quem não possa ajudar conversando.

- Guarde uma frase sorridente e amiga para
toda situação inevitável.
Da mente aos lábios, temos um trajeto
controlável para as nossas manifestações.

- Fuja a comparações, a fim de que seu
verbo não venha a ferir.
Por isso, tão logo a idéia negativa nos alcance
a cabeça, arredemo-la, porque um pensamento
pode ser substituído, de imediato, no silêncio
do espírito, mas a palavra solta é sempre um
instrumento ativo em circulação.

Recorde que Jesus legou o Evangelho,
exemplificando, mas conversando também.
ANDRÉ LUIZ



Distribui sorrisos e palavras de amor aos irmãos algemados a
rudes provas como se os visses falando por teus lábios, e
atravessarás os dias de tristeza ou de angústia com a luz da
esperança no coração, caminhando, em rumo certo, para o
reencontro feliz com todos eles, nas bênçãos de Jesus, em plena
imortalidade.

(Emmanuel).

sábado, 1 de novembro de 2014

Desencarnados nas Trevas








DESENCARNADOS EM TREVAS 
Reunião pública de 18-9-61. 
1ª Parte, cap. VII, § 25. 



Desencarnados em trevas... 

Insulados no remorso... 

Detidos em amargas recordações... 

Jungidos à trama dos próprios pensamentos atormentados... 

*** 

Eram donos de palácios soberbos e sentem-se aferrolhados no estreito espaço do túmulo. 

Mostravam-se insensíveis, nos galarins do poder, e derramam o pranto horizontal dos 

caídos. 

Amontoavam haveres e agarram-se, agora, aos panos do esquife. 

Possuíam rebanhos e pradarias e jazem num fosso de poucos palmos. 

Despejavam fardos de dor nos ombros sangrentos dos semelhantes, e suportam, chorando, 

os mármores do sepulcro, a lhes partirem os ossos. 

Estagiavam ciência inútil e tremem perante o desconhecido. 

Devoravam prazeres e gemem a sós. 

Exibiam títulos destacados e soluçam no chão. 

Brilhavam em salões engrinaldados de fantasias e arrastam-se, estremunhados, ante as 

sombras da cova. 

Oprimiam os fracos e não sabem fugir à gula dos vermes. 

Eram campeões da beleza física, e procuram, debalde, esconder-se nas próprias cinzas. 

Repoltreavam-se em redes de ouro, e estiram-se, atarantados, entre caixas de pó. 

Emitiam discursos brilhantes e gaguejam agora. 

Deitavam sapiência e estão loucos. *** 

Nada disso, porém, acontece porque algo possuíssem, mas sim porque foram possuídos de 

paixões desregradas. 

Não se perturbam, porque algo tiveram, mas sim porque retiveram isso ou aquilo, sem ajudar 

a ninguém. 

Se podes verificar a tortura dos desencarnados em trevas, aproveita a lição. 

Não sofrerás pelo que tens, nem pelo que és. 

Todos colheremos o fruto dos próprios atos, no que temos e somos. 

Onde estiveres, pois, faze o bem que puderes, sem apego a ti mesmo. 

Escuta o companheiro que torna do Além, aflito e desorientado, e aprenderás, em silêncio, 

que todo egoísmo gera o culto da morte. 

Livro
Justiça Divina
Psicografado por Francisco Cândido Xavier
Pelo Espírito Emmanuel













Espíritas Diante da Morte





ESPÍRITAS DIANTE DA MORTE

Reunião pública de 25.9.61
1ª. Parte, cap. II, Item 10




Toda religião procura confortar os homens, ante a esfinge da morte.

A Doutrina Espírita não apenas consola, mas também alumia o raciocínio dos que indagam e

choram na grande separação.

***

Toda religião admite a sobrevivência.

A Doutrina Espírita não apenas patenteia a imortalidade da vida, mas também demonstra o

continuísmo da evolução do ser, em esferas diferentes da Terra.

***

Toda religião afirma que o mal será punido, para lá do sepulcro.

A Doutrina Espírita não apenas informa que todo delito exige resgate, mas também destaca

que o inferno é o remorso, na consciência culpada, cujo sofrimento cessa com a necessária

e justa reparação.

***

Toda religião ensina que a alma será expurgada de todo o erro, em regiões inferiores.

A Doutrina Espírita não apenas explica que a alma, depois da morte, se vê mergulhada nos

resultados das próprias ações infelizes, mas também esclarece que, na maioria dos casos, a

estação terminal do purgatório é mesmo a Terra, onde reencontramos as conseqüências de

nossas faltas, a fim de extingui-las, através da reencarnação.

***

Toda religião fala do Céu, como sendo estância de alegria perene.

A Doutrina Espírita não apenas mostra que o Céu existe, por felicidade suprema no Espírito

que sublimou a si mesmo, mas também elucida que os heróis da virtude não se imobilizam

em paraísos estanques, e que, por mais elevados, na hierarquia moral, volvem a socorrer os

irmãos da humanidade ainda situados na sombra.

*** Toda religião encarece o amparo da Providência Divina às almas necessitadas

A Doutrina Espírita não apenas confirma que o Amor infinito de Deus abraça todas as

criaturas, mas também adverte que todos receberemos, individualmente, aqui ou além, de

acordo com as nossas próprias obras.

Os espíritas, pois, realmente não podem temer a morte que lhes sobrevém, na pauta dos

desígnios superiores.

Para todos nós, a desencarnação em atendimento às ordenações da vida maior é o termo de

mais um dia de trabalho santificante, para que se ponham, de novo, a caminho do alvorecer. 

Livro: Justiça Divina - Psicografado pelo Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Emmanuel


Nós Todos




NÓS TODOS 
Reunião pública de 15.9.61 
1ª. Parte, cap. VII, § 1º 



Espíritos imperfeitos! 

No círculo das paixões que se agitam na Terra, somos nós todos. 

*** 

Abriste a outrem o túnel da paciência e não te furtaste ao desespero, quando o tempo te 

trouxe o dia da prova. 

Receitaste heroísmo ao companheiro dilacerado e acolheste a revolta, quando te beliscaram 

a pele. 

Pregaste desinteresse aos que ajuntaram alguns vinténs e esqueceste os necessitados, 

quando a fortuna te procurou. 

Estranhaste o procedimento culposo dos vizinhos e resvalaste em mais baixo nível, na hora 

da tentação. 

Por isso mesmo, qual nos acontece, ao toque da verdade, tens a luz da esperança na dor da 

insatisfação. 

*** 

No entanto, apesar dos mais duros conflitos de consciência, prossegue indicando o bem. 

Exercício na escola é base do ensino. 

Aluno desanimado perde a lição. 

Fazendo luz para os outros, acabamos medindo a sombra que nos é própria. 

*** 

Não admitas que nós, os amigos desencarnados, estejamos como quem fala de palanque 

blindado, à praça indefesa. 

Obreiros da mesma obra, servimos em duas frentes. 

Choras pelos que viste partir. Choramos nós pelos que ficaram. 

Trabalhamos por ti, a cujo passo recorremos em nova reencarnação. 

Trabalhas por nós, que seremos teus filhos. 

*** 

Imperioso purificar-nos para o vôo supremo aos mundos felizes. 

Tanto aí quanto aqui, é preciso aprender, sofrendo, e subir, resgatando. 

Assim pois, diante do irmão caído no mal, compadece-te dele e ensina o bem, mesmo que o 

mal ainda te ensombre. 

A compaixão mostra o caminho da caridade e, sem caridade uns para com os outros, não há 

segurança para ninguém. 

Livro
Justiça Divina
Psicografado pelo Francisco Cândido Xavier
Pelo Espírito Emmanuel

Espíritos Transviados





ESPÍRITOS TRANSVIADOS

Reunião pública de 30.10.61
1ª. Parte, cap. VII, § 22


Caminham desfalecentes, embuçados na sombra, ainda que o sol resplenda em torno.

Sonâmbulos das paixões em que se desregravam, são cativos dos seus próprios reflexos

dominantes.

Por mais se lhes atraia a atenção para as esferas sublimes, encasulam-se nos interesses inferiores,

encarcerando na Terra as antenas da alma.

Aferrolhavam o coração no recinto estreito de burras preciosas e sentem-se, no esquife, como quem

se refestela em poltrona de ouro.

Empenhavam as forças, a tiranizarem multidões indefesas, manejando o verbo fácil, e deitam oratória

fulgente, no barranco em que se lhes guardam os restos, qual se ocupasse os primeiros lugares em

tribuna de honra.

Aniquilavam recursos, plasmando imagens viciosas, em nome do sentimento, e escrevem ou

gesticulam, na solidão, supondo transmitir emoções enfermiças a legiões de admiradores

imaginários.

Aprisionavam a mente, no egoísmo feroz, e tornam à paisagem doméstica, à maneira de loucos,

envolvendo os entes queridos em fluidos tentaculares.

Hipotecavam energias aos prazeres sensuais e choram agressivos, na clausura da cova, disputando

com os vermes a posse do corpo transformado em ruínas.

Empregavam as horas, ilaqueando a si mesmos, e vagueiam errantes, hipnotizados por inteligências

corrompidas com as quais se conjugam em delitos nas trevas.

***

Não acredites, porém, sejam eles doentes sem esperança.

O Criador não quer escravos na Criação.

Todos são livres para escolher os nossos caminhos.

Por isso, quase sempre, em sucessivas reencarnações, gastamos séculos no mal, a fim de entender

o bem.

E se a Lei te permite conhecer o suplício das consciências transviadas, pra lá do sepulcro, é para que

trabalhes em teu próprio favor.

Corrige em ti mesmo tudo aquilo que nos censuram outros.

Clareia-te por dentro.

Aprimora-te e serve.

Enquanto no corpo físico, desfrutas o poder de controlar o pensamento, aparentando o que deves

ser; no entanto, após a morte, eis que a vida é verdade, mostrando-te como és.

Livro: Justiça Divina - Psicografado pelo Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Emmanuel


Céu




CÉU
Reunião pública de 24-4-61
1a. Parte, cap. III, item 18

Aflitiva e longa tem sido a nossa viagem multimilenária, através da reencarnação, a fim de

que venhamos a entender o conceito de céu.

Entre os chineses de épocas venerandas, afiançávamos que a imortalidade era a absoluta

integração com os antepassados.

Na Índia Bramânica, admitíamos que o éden fosse a condição privilegiada de alguns eleitos,

na pureza intocável dos cimos.

No Egito remoto, imaginávamos que a glória, na Esfera Espiritual, consistisse na intimidade

com os deuses particulares, ainda mesmo quando se mostrassem positivamente cruéis.

Na Grécia antiga, supúnhamos que a felicidade suprema, além da morte, brilhasse no trono

das honrarias domésticas.

Com gauleses e romanos, incas e astecas, possuíamos figurações especiais do paraíso e,

ainda ontem, acreditávamos que o céu fosse região deleitosa, em que Deus, teologicamente

transformado em caprichoso patriarca, vivesse condecorando os filhos oportunistas que

evidenciassem mais ampla inteligência, no campeonato da adulação.

De existência a existência, entretanto, aprendemos hoje que a vida se espraia, triunfante, em

todos os domínios universais do sem-fim; que a matéria assume estados diversos de fluidez

e condensação; que os mundos se multiplicam infinitamente no plano cósmico; que cada

espírito permanece em determinado momento evolutivo, e que, por isso, o céu, em essência,

é um estado de alma que varia conforme a visão interior de cada um.

***

É por esse motivo que Allan Kardec pergunta e responde:

- <<Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu?

Em toda parte. Nenhum contorno especial lhe traça limites. Os mundos superiores são as

últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam.>>

E foi ainda, por essa mesma razão que, prevenindo-nos para compreender as realidades da

natureza, no grande porvir, ensinou-nos Jesus, claramente:

- <<O Reino de Deus, está dentro de vós.>>

Livro: Justiça Divina - Psicografado pelo Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Emmanuel

A Luz da Reencarnação





NA LUZ DA REENCARNAÇÃO

Reunião pública de 21-4-61

1a. Parte, cap. VII, item 17



Trazes hoje as vísceras doentes, compelindo-te aos aborrecimentos de incessante medicação.

Elas, porém, se fizeram assim, à força de suportarem ontem os teus próprios abusos nos

venenos da mesa.

***

Trazes hoje o corpo mutilado, obrigando-te a movimentos de sacrifício.

Tens, no entanto, o carro físico desse modo por lhe haveres gasto, ontem, esse ou aquele

recurso em corridas à delinqüência.

***

Trazes hoje o cérebro hebetado, dificultando-te as expressões.

Mas, isso acontece porque, ontem, mergulhavas a própria cabeça em clima de trevas.

***

Trazes hoje a carência material por sentinela de cada dia.

Contudo, ontem atolavas o coração no supérfluo, articulado com o pranto dos infelizes.

***

Trazes hoje, na própria casa, a presença de certos familiares que te acompanham à feição de

verdugos.

Entretanto, são eles credores de ontem, que surgem, no tempo, pedindo contas.

***

Todos somos capazes de fazer o melhor, porquanto, pelas tentações e provas de hoje, podemos

avaliar o ponto de trabalho em que a vida nos impele a sanar os erros do passado, clareando o

futuro.

Perfeição é a meta.

Reencarnação é o caminho.

E toda falha, na direção de obra perfeita, exige naturalmente corrigenda e recomeço.

Livro: Justiça Divina - Psicografado por Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Emmanuel

Observai os Pássaros do Céu



Não acumuleis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os comem e onde os ladrões os desenterram e roubam; - acumulai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os comem; - porquanto, onde está o vosso tesouro aí está também o vosso coração.

Eis por que vos digo: Não vos inquieteis por saber onde achareis o que comer para sustento da vossa vida, nem de onde tirareis vestes para cobrir o vosso corpo. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?

Observai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, nada guardam em celeiros; mas, vosso Pai celestial os alimenta. Não sois muito mais do que eles? - e qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar de um côvado a sua estatura?

Por que, também, vos inquietais pelo vestuário? Observai como crescem os lírios dos campos: não trabalham, nem fiam; - entretanto, eu vos declaro que nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. - Ora, se Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que existe hoje e amanhã será lançada na fornalha, quanto maior cuidado não terá em vos vestir, ó homens de pouca fé!

Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos? ou: que beberemos? ou: de que nos vestiremos? - como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidades delas.

Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. - Assim, pois, não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã, porquanto o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal. (S. MATEUS, cap. VI, vv. 19 a 21 e 25 a 34.)


Interpretadas à letra, essas palavras seriam a negação de toda previdência, de todo trabalho e, conseguintemente, de todo progresso. Com semelhante princípio, o homem limitar-se-ia a esperar passivamente. Suas forças físicas e intelectuais conservar-se-iam inativas. Se tal fora a sua condição normal na Terra, jamais houvera ele saído do estado primitivo e, se dessa condição fizesse ele a sua lei para a atualidade, só lhe caberia viver sem fazer coisa alguma. Não pode ter sido esse o pensamento de Jesus, pois estaria em contradição com o que disse de outras vezes, com as próprias leis da Natureza. Deus criou o homem sem vestes e sem abrigo, mas deu-lhe a inteligência para fabricá-los. (Cap. XIV, no 6; cap. XXV, no 2.)

Não se deve, portanto, ver, nessas palavras, mais do que uma poética alegoria da Providência, que nunca deixa ao abandono os que nela confiam, querendo, todavia, que esses, por seu lado, trabalhem. Se ela nem sempre acode com um auxílio material, inspira as idéias com que se encontram os meios de sair da dificuldade. (Cap. XXVII, no 8.)

Deus conhece as nossas necessidades e a elas provê, como for necessário. O homem, porém, insaciável nos seus desejos, nem sempre sabe contentar-se com o que tem: o necessário não lhe basta; reclama o supérfluo. A Providência, então, o deixa entregue a si mesmo. Freqüentemente, ele se torna infeliz por culpa sua e por haver desatendido à voz que por intermédio da consciência o advertia. Nesses casos, Deus fá-lo sofrer as conseqüências, a fim de que lhe sirvam de lição para o futuro. (Cap. V, no 4.)

A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência do outro; e cada um terá o necessário. O rico, então, considerar-se-á como um que possui grande quantidade de sementes; se as espalhar, elas produzirão pelo cêntuplo para si e para os outros; se, entretanto, comer sozinho as sementes, se as desperdiçar e deixar se perca o excedente do que haja comido, nada produzirão, e não haverá o bastante para todos. Se as amontoar no seu celeiro, os vermes as devorarão. Daí o haver Jesus dito: "Não acumuleis tesouros na Terra, pois que são perecíveis; acumulai-os no céu, onde são eternos." Em outros termos: não ligueis aos bens materiais mais importância do que aos espirituais e sabei sacrificar os primeiros aos segundos. (Cap. XVI, no 7 e seguintes.)

A caridade e a fraternidade não se decretam em leis. Se urna e outra não estiverem no coração, o egoísmo aí sempre imperará. Cabe ao Espiritismo fazê-las penetrar nele.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Obsidiados



"972. Como procedem os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos, não podendo jogar com as paixões?

"As paixões não existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos atrasados. Os maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas vítimas aos lugares onde se lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de tudo que as possa excitar’’. O LIVRO DOS ESPÍRITOS


Jornadeiam sob dramas angustiantes que vivem mentalmente.

O pensamento dirigido por lembranças vigorosas do passado não consegue romper os laços que o vincula à rememoração continuada.

Atormentados em sinistros dédalos íntimos, desfazem a máscara da aparência sob qualquer impacto emocional.

Irritadiços, vivem desgovernados.

Traumatizados, são sonâmbulos em plena inconsciência da realidade.

Trânsfugas, não conseguem fugir aos cenários de sombras onde residem psiquicamente.

Refletem nas atitudes o próprio desgoverno e sofrem aflições que procuram ocultar, amedrontados.

A maioria esconde o pavor por detrás da aspereza em que se enclausura.

Uns enxergam os adversários do mundo íntimo em todos os que os cercam.

Outros ouvem em todas as expressões verbais o sarcasmo de que são vítimas incessantes.

Transitam, atordoados, monologando ou travando diálogos de vil hostilidade.

Nos painéis da tua mente muitas outras mentes procuram refúgio, constrangendo-te ao recuo.

Falam contigo, procurando recordar-te...

Apresentam-se à hora do parcial desprendimento pelo sono, tentando imprimir nos centros sensíveis os seus espectros em cujas fáceis a dor e a revolta se refletem.

Atropelam-te, imiscuindo-se nas tarefas que te dizem respeito e interferindo mesmo em questões insignificantes do dia-a-dia.

Inspiram-te sombrias maquinações.

Transmitem sugestões malévolas.

Zombam da tua resistência.

Assediam a tua casa psíquica.

Também eles, os outros companheiros do envoltório carnal, igualmente sofrem a compressão desses desencarnados em estado pestilencial do ódio.

Como tu, também lutam tenazmente.

Alguns já se renderam, deixando-se arrastar submissos.

Diversos estão recorrendo aos estupefacientes a fim de fugirem, caindo, logo depois, indefesos, nas ciladas bem urdidas em que se demoram hipnotizados.

Muitos buscam a ação dos eletrochoques e da insulina e repousam apagados sem recobrarem, logo mais, a paz, voltando às evocações logo cessam os efeitos psicoterápicos de um ou de outro.

E há os que procuram em vão, na infância, as causas de suas aflições, deixando-se analisar...

Ignoram, todos eles, as causas transcendentes dos sofrimentos, a anterioridade das obsessões.

Com todo o respeito que nos merecem os métodos da Ciência e as modernas doutrinas psicológicas, associa a prece e o passe às demais terapêuticas de que te serves.

Faze da prece um lenitivo constante e do passe um medicamento refazente.

Renova a mente com o recurso valioso da caridade fraternal.

Sai da cela pessoal e visita outros encarcerados, trabalhando por eles, socorrendo-os, se estiverem em situação mais grave e danosa.

Insculpe no pensamento as asas da esperança e alça a mente às Regiões da Luz, assimilando o hálito divino espalhado em toda a parte.

Sentirás estímulo para lutar e ajudarás, através das atitudes de renovação, os próprios perseguidores desencarnados.

Ora por eles, os teus sicários.

Serve-te do passe evangélico e procura assimilar as energias que te serão transmitidas.

Mas, sobretudo, faze o bem, ajuda sem cessar, harmoniza-te e tem paciência.

O tempo é um benfeitor anônimo.

Diante de obsessores e obsidiados o Excelso Psicólogo manteve sempre a mesma atitude: amor pelo enfermo na carne e piedade pelo enfermo desencarnado, libertando um e outro com o beneplácito da sua misericórdia e os conclamando. a realizarem a tarefa de renovação pelo trabalho, em incessante culto ao perdão pelo amor, em cujas páginas se inscrevem a paz e a felicidade sem jaça.

FRANCO, Divaldo Pereira. Espírito e Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.





Obreiro Sem Fé



"....e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras." (Tiago, 2:18)

Em todos os lugares, vemos o obreiro sem fé, espalhando inquietação e desânimo.

Devota-se a determinado empreendimento de caridade e abandona-o, de início, murmurando:

- "Para quê? O mundo não presta."

Compromete-se em deveres comuns e, sem qualquer mostra de persistência, se faz demissionário de obrigações edificantes, alegando: .Não nasci para o servilismo desonroso.

Aproxima-se da fé religiosa, para desfrutar-lhe os benefícios, entretanto, logo após, relega-a ao esquecimento, asseverando:

- "Tudo isto é mentira e complicação."

Se convidado a posição de evidência, repete o velho estribilho:

- "Não mereço! Sou indigno!..."

Se trazido a testemunhos de humildade, afirma sob manifesta revolta:

- "Quem me ofende assim.?"

E transita de situação em situação, entre a lamúria e a indisciplina, com largo tempo para sentir-se perseguido e desconsiderado.

Em toda parte, é o trabalhador que não termina o serviço por que se responsabilizou ou o aluno que estuda continuadamente, sem jamais aprender a lição.

Não te concentres na fé sem obras, que constitui embriaguez perigosa da alma, todavia, não te consagres à ação, sem fé no Poder Divino e em teu próprio esforço.

O servidor que confia na Lei da Vida reconhece que todos os patrimônios e glórias do Universo pertencem a Deus. Em vista disso, passa no mundo, sob a luz do entusiasmo e da ação no bem incessante, completando as pequenas e grandes tarefas que lhe competem, sem enamorar-se de si mesmo na vaidade e sem escravizar-se às criações de que terá sido venturoso instrumento.

Revelemos a nossa fé, através das nossas obras na felicidade comum e o Senhor conferirá à nossa vida o indefinível acréscimo de amor e sabedoria, de beleza e poder.

XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel.

O Óbolo da Viúva



Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso, veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. - S. LUCAS, cap. XXI. vv. 1 a 4.).

Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. E sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor. infelizmente, a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras, quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inesperadas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada finalidade do Espiritismo e, ainda menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, nº 294 e nº 295.).

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Lâmpadas, Receptores e Transmissor





Recebem o raio luminoso e se inebriam de imediato com as impressões visuais transformadas em imagens que se gravam nos recônditos da memória, impressas em côr para serem evocadas logo se acionem os mecanismos próprios capazes de selecioná-las e retirá-las dos arquivos neuroniais.

Penetrados pela sonora vibração, que deambula através da câmara acústica, classificam os ruídos e os discriminam para gravá-los em sutil engrenagem, na qual perduram as impressões transformadas em mensagens inapagáveis nos fulcros profundos do espírito.

Acionada pelo mecanismo automático dos centros especializados, converte idéias em música e dispara dardos orais ou veludosa melopéia que faculta comunicação, gerando singular meio de entendimento ou desgraça, conforme a direção aplicada.

Lâmpadas são os olhos derramando claridade pela senda por onde correm os rios dos dias, acionando as alavancas do movimento humano na extensão do progresso.

Receptores são os ouvidos, por cujos condutos as vozes da vida atingem o espírito eterno, momentâneamente revestido pela matéria, de forma a ajudá-lo no crescimento e na evolução.

Transmissor eficaz é a bôca encarregada de exteriorizar as impressões que transitam dos centros pensantes ao comércio exterior da vida.

Aparelhos preciosos de que se encontram investidos os homens são inestimáveis tesouros da concessão divina, cuja valorização merece a cada instante maior soma do capital de amor para que, através dêles, o espírito aprenda a ver e a marchar, saiba ouvir e guardar, disponha-se a sentir e expressar consubstanciando os ideais enobrecedores na elaboração da paz íntima.

Nem todos porém que vêem, conseguem com elevação selecionar o que enxergam e assimilar o que devem.

Muitos que ouvem não se comprazem ainda em fixar o que é nobre, olvidando o que é espúrio e vulgar para construir sabedoria pessoal.

Poucos apenas falam, na multidão dos que usam a palavra, de forma eficiente, sem conspurcarem os lábios, macularem a própria ou a vida alheia, derrapando, não raro, para as figurações deprimentes da censura e da crítica indevida, aspirando em decorrência os vapõres tóxicos da impiedade e da insensatez.

* * *

Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e contempla tudo com amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.

"A candeia do corpo são os olhos".

Liga os receptores somente quando as convenientes mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis mentais, de modo a possuíres permanente festa no espírito, não obstante as tormentas exteriores que te cerquem "Quem tiver ouvidos ouça".

Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito que diz, mas pelo conteúdo enobrecedor do que carregam suas palavras.

"Porque a boca fala o de que está cheio o coração".

O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrava, e Sua bõca bordada de misericórdia somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa Nova em apêlo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convocando o homem de tôdas as épocas à epopéia da felicidade. Procura fazer o mesmo com a tua aparelhagem superior.

*

"Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredálo com as suas próprias palavras". Mateus: capítulo 22º, versículo 15.

"Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, Só a poder de concessões e sacrifícios mútuos, podeis conservar a harmonia entre elementos tão diversos". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 11º - Item 13, parágrafo 2


FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.



A Beneficência




Sede bons e caridosos: essa a chave dos céus, chave que tendes em vossas mãos. Toda a eterna felicidade se contém neste preceito: "Amai-vos uns aos outros." Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna. Ao demais, qual dentre vós ainda não sentiu o coração pulsar de júbilo, de íntima alegria, à narrativa de um ato de bela dedicação, de uma obra verdadeiramente caridosa? Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona, conservar-vos-íeis sempre na senda do progresso espiritual. Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa-vontade. Notai que a vossa história guarda piedosa lembrança de uma multidão de homens de bem.

Não vos disse Jesus tudo o que concerne às virtudes da caridade e do amor? Por que desprezar os seus ensinamentos divinos? Por que fechar o ouvido às suas divinas palavras, o coração a todos os seus bondosos preceitos? Quisera eu que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. Desprezam, porém, esse livro, consideram-no repositório de palavras ocas, uma carta fechada; deixam no esquecimento esse código admirável. Vossos males provêm todos do abandono voluntário a que votais esse resumo das leis divinas. Lede-lhe as páginas cintilantes do devotamento de Jesus, e meditai-as.

Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa brandura, da vossa fé, as vossas armas. Sede mais persuasivos, mais constantes na propagação da vossa nova doutrina. Apenas encorajamento é o que vos vimos dar; apenas para vos estimularmos o zelo e as virtudes é que Deus permite nos manifestemos a vós outros. Mas, se cada um o quisesse, bastaria a sua própria vontade e a ajuda de Deus; as manifestações espíritas unicamente se produzem para os de olhos fechados e corações indóceis.

A caridade é a virtude fundamental sobre que há de repousar todo o edifício das virtudes terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem a caridade não há esperar melhor sorte, não há interesse moral que nos guie; sem a caridade não há fé, pois a fé não é mais do que pura luminosidade que torna brilhante uma alma caridosa.

A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. Como desprezar essa bondade suprema? Qual o coração, disso ciente, bastante perverso para recalcar em si e expulsar esse sentimento todo divino? Qual o filho bastante mau para se rebelar contra essa doce carícia: a caridade?

Não ouso falar do que fiz, porque também os Espíritos têm o pudor de suas obras; considero, porém, a que iniciei como uma das que mais hão de contribuir para o alívio dos vossos semelhantes. Vejo com freqüência os Espíritos a pedirem lhes seja dado, por missão, continuar a minha tarefa. Vejo-os, minhas bondosas e queridas irmãs, no piedoso e divino ministério; vejo-os praticando a virtude que vos recomendo, com todo o júbilo que deriva de uma existência de dedicação e sacrifícios. Imensa dita é a minha, por ver quanto lhes honra o caráter, quão estimada e protegida é a missão que desempenham. Homens de bem, de boa e firme vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade; no exercício mesmo dessa virtude, encontrareis a vossa recompensa; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede unidos, amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja. - S. Vicente de Paulo. (Paris, 1858.)

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 13. Item 12.

Bem e Mal Sofrer



Quando o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence", não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.

O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: "Fui o mais forte."

Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. - Lacordaire. (Havre, 1863.)

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 5. Item 18.

O Banquete dos Publicanos



"E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?" - (MATEUS, capítulo 9, versículo 11.)

De maneira geral, a comunidade cristã, em seus diversos setores, ainda não percebeu toda a significação do banquete do Mestre, entre publicanos e pecadores.

Não só a última ceia com os discípulos mais íntimos se revestiu de singular importância. Nessa reunião de Jerusalém, ocorrida na Páscoa, revela-nos Jesus o caráter sublime de suas relações com os amigos de apostolado. Trata- se de ágape íntimo e familiar, solenizando despedida afetuosa e divina lição ao mesmo tempo.

No entanto, é necessário recordar que o Mestre atendia a esse círculo em derradeiro lugar, porqüanto já se havia banqueteado carinhosamente com os publicanos e pecadores. Partilhava a ceia com os discípulos, num dia de alta vibração religiosa, mas comungara o júbilo daqueles que viviam a distância da fé, reunindo-os, generoso, e conferindo-lhes os mesmos bens nascidos de seu amor.

O banquete dos publicanos tem especial significado na história do Cristianismo. Demonstra que o Senhor abraça a todos os que desejem a excelência de sua alimentação espiritual nos trabalhos de sua vinha, e que não só nas ocasiões de fé permanece presente entre os que o amam; em qualquer tempo e situação, está pronto a atender as almas que o buscam.

O banquete dos pecadores foi oferecido antes da ceia aos discípulos. E não nos esqueçamos de que a mesa divina prossegue em sublime serviço. Resta aos comensais o aproveitamento da concessão.


XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel.

Bem-aventurados os Que Têm Fechados os Olhos





NOTA. Esta comunicação foi dada com relação a uma pessoa cega, a cujo favor se evocara o Espírito de J. B. Vianney, cura d’Ars.

Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: "Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste." Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação.

Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembléia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bemaventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão!... Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delicias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira!

Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com freqüência, o anjo tenebroso que conduz à morte.

Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer.

Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção. - Vianney, cura d'Ars. (Paris, 1863.)

NOTA. Quando uma aflição não é conseqüência dos atos da vida presente, devese- lhe buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta. Se, por sua bondade, lançou um véu sobre os nossos atos passados, por outro lado nos aponta o caminho, dizendo: '“Quem matou à espada, pela espada perecerá", palavras que se podem traduzir assim: "A criatura é sempre punida por aquilo em que pecou." Se, portanto, alguém sofre o tormento da perda da vista, é que esta lhe foi causa de queda. Talvez tenha sido também causa de que outro perdesse a vista; de que alguém haja perdido a vista em conseqüência do excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, de falta de cuidados, etc. Nesse caso, passa ele pela pena de talião. É possível que ele próprio, tomado de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: "Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o."



KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo
.

A Psicologia da Oração



Convencionou-se, ao longo do tempo, que a oração é um recurso emocional e psíquico para rogar e receber benefícios da Divindade, transformando-a em instrumento de ambição pessoal, realmente distante do seu alto significado psicológico.

A oração é um precioso recurso que faculta a aquisição da autoconsciência, da reflexão, do exame dos valores emocionais e espirituais que dizem respeito à criatura humana.

Tornando-se delicado campo de vibrações especiais, faculta a sintonia com as forças vivas do Universo, constitui veículo de excelente qualidade para a vinculação da criatura com o seu Criador.

Todos os seres transitam vibratoriamente em faixas especiais que correspondem ao seu nível evolutivo, ao estágio intelecto-moral em que se encontram, às suas aspirações e aos seus atos, nos quais se alimentam e constroem a existência.

A oração é o mecanismo sublime que permite a mudança de onda para campos mais sensíveis e elevados do Cosmo.

Orar é ascender na escala vibratória da sinfonia cósmica.

Em face desse mecanismo, torna-se indispensável que se compreenda o significado da prece, sua finalidade e a maneira mais eficaz pela qual se pode alcançar o objetivo desejado.

Inicialmente, orar é abrir-se ao amor, ampliar o círculo de pensamentos e de emoções, liberando-se dos hábitos e vícios, a fim de criar-se novos campos de harmonia interior, de forma que todo o ser beneficie-se das energias hauridas durante o momento especial.

A melhor maneira de alcançar esse parâmetro é racionalmente louvar a Divindade, considerando a grandeza da Criação, permitindo-se vibrar no seu conjunto, como seu filho, assimilando as incomparáveis concessões que constituem a existência.

Considerar-se membro da família universal, tendo em vista a magnanimidade do Pai e Sua inefável misericórdia, enseja àquele que ora o bem-estar que propicia a captação das energias saudáveis da vida.

Logo depois, ampliar o campo do raciocínio em torno dos próprios limites e necessidades imensas, predispondo-se a aceitar todas as ocorrências que dizem respeito ao seu processo evolutivo, mas rogando compaixão e ajuda, a fim de errar menos, acertar mais, e de maneira edificante, o passo com o bem.

Nesse clima emocional, evitar a queixa doentia, a morbidez dos conflitos e exterioridades ante a magnitude das bênçãos que são hauridas, apresentando-se desnudado das aparências e circunlóquios da personalidade convencional.

Não é necessário relacionar sofrimentos, nem explicitar anseios da mente e do coração, porque o Senhor conhece a todos os Seus filhos, que são autores dos próprios destinos e ocorrências, mediante o comportamento mantido nas multifárias experiências da evolução.

Por fim, iluminado pelo conhecimento da própria pequenez ante a grandeza do Amor, externar o sentimento de gratidão, a submissão jubilosa às leis que mantêm o arquipélago de astros e a infinitude de vidas.

*

Tudo ora no Cosmo, desde a sinfonia intérmina dos astros em sua órbita, mantendo a harmonia das galáxias, até os seres infinitesimais no mecanismo automático de reprodução, fazendo parte do conjunto e da ordem estabelecidos.

Em toda parte vibra a vida nos aspectos mais complexos e simples, variados e uniformes.

Sem qualquer esforço da consciência, circula o sangue por mais de 150 mil quilômetros de veias, vasos, artérias, em ritmo próprio para a manutenção do organismo humano tanto quanto de todos os animais.

Funções outras mantidas pelo sistema nervoso autônomo obedecem a equilibrado ritmo que as preserva em atividade harmônica.

As estações do tempo alternam-se facultando as variadas manifestações dos organismos vivos dentro de delicadas ondas de luz e de calor que lhes possibilitam a existência, a manifestação, o desabrochar, o adormecimento, a espera.

O ser humano, enriquecido pela faculdade de pensar e dotado do livre-arbítrio, que lhe propicia escolher, atado às heranças do primarismo da escala animal ancestral pela qual transitou, experiencia mais as sensações do imediato do que as emoções da beleza, da harmonia, da paz, da saúde integral,

Reconhece o valor incalculável do equilíbrio, no entanto, estigmatizado pela herança do prazer hedonista, entrega-se-lhe à exorbitância pela revolta nos transtornos de conduta, como forma de imposição grotesca.

Ao descobrir a oração, logo se permite exaltar falsas ou reais necessidades, desejando respostas imediatas, soluções mágicas para atendê-las, distantes do esforço pessoal de crescimento e de reabilitação.

É claro que aquele que assim procede não alcança as metas propostas, pois que elas ainda não podem apresentar-se por nele faltarem os requisitos básicos para o estabelecimento da harmonia interior.

A oração é campo no qual se expande a consciência e o Espírito eleva-se aos páramos da luz imarcescível do amor inefável.

Quem ora ilumina-se de dentro para fora, tornando-se uma onda de superior vibração em perfeita consonância com a ordem universal.

O egoísmo, os sentimentos perversos não encontram lugar na partitura da oração.

Torna-se necessário desfazer-se desses acordes perturbadores, para que haja sincronização do pensamento com as dúlcidas notas da musicalidade divina.

A psicologia da oração é o vasto campo dos sentimentos que se engrandecem ao compasso das aspirações dignificadoras, que dão sentido e significado à existência na Terra.

Inutilmente, gritará a alma em desespero, rogando soluções para os problemas que lhe compete equacionar, mesmo que atraindo os numes tutelares sempre compadecidos da pequenez humana.

Desde que não ocorre sintonia entre o orante e a Fonte exuberante de vida, as respostas, mesmo quando oferecidas, não são captadas pelo transtorno da mente exacerbada.

*

Quando desejares orar, acalma o coração e suas nascentes, assumindo uma atitude de humildade e de aceitação, a fim de que possas falar àquele que é o Pai de misericórdia, que sempre providencia todos os recursos necessários à aquisição humana da sua plenitude.

Convidado a ensinar aos seus discípulos a melhor maneira de expressar a oração, Jesus foi taxativo e gentil, propondo a exaltação ao Pai em primeiro lugar, logo após as rogativas e a gratidão, dizendo:

- Pai Nosso, que estais nos Céus...

Entrega-te, pois, a Deus, e nada te faltará, pelo menos tudo aquilo que seja importante à conquista da harmonia mediante a aquisição da saúde integral.

Divaldo Pereira Franco. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...