Temos também no texto do capítulo 4, de título “O que procede do coração“, do Livro REFORMA ÍNTIMA SEM MARTÍRIO, de Ermance Dufaux, psicografia de Wanderley S. de Oliveira, a questão do acolhimento daqueles que erram como elemento de sucesso espiritual.
Todo julgamento é sofrível. Especialmente quando temos à nossa análise uma pessoa que não tem como se defender de nossa forma de pensar.
As pessoas são individualidades. Possuem formas de pensar diferentes. Possuem conhecimentos diferentes. Possuem entendimentos diferentes… Valores… objetivos… planejamento… e só por isso devemos respeitar cada um a sua forma de agir. Mas não só por isso.
As pessoas são individualidades. Seus pensamentos geram consequências que somente a pessoa, e outras que estão em volta de sua vida é que suportam. E, se o centro da consequência é a pessoa que age, o limite da circunferência de sua ação dependerá do tamanho da ação em relação a vida. Se a ação tem relação com a vida do agente, sua influência poderá se reportar na vida de milhares de pessoas, como por exemplo, o uso de bombas e explosivos, o uso de armamento, ou de uma doença como agente agressor a muitos. As consequências de nossos atos, então, não influenciam apenas a nós mesmos. Da mesma forma, podemos entender que recebemos a influência da ação de outras pessoas na medida que nos relacionamos com elas. Quanto mais profundo o relacionamento, maior a influência dessa pessoa em nossa vida e da consequência de seus atos em relação a nossa vida. Um exemplo disso são os atos de nossos pais, mães, avós, avôs, filhos, filhas, tias, tios, sobrinhas e sobrinhos… marido, mulher, companheiro, companheira, namorado ou namorada… amantes, etc. Chefes, subordinados, colega de repartição… amigos, amigas, colegas, simpatizantes… adversários, inimigos, etc… Dependendo do circulo de amizade que temos, nossa ação poderá interferir em uma ou mais pessoas, com maior ou menor intensidade. Vivemos em uma simbiose social muito elevada e essa simbiose social nos transfere também responsabilidade espiritual nas ações privadas e coletivas.
Mas, embora influencie a muitas pessoas, direta e indiretamente, a responsabilidade da pessoa é real e intransferível entre todos aqueles que participaram da realizaçao do evento, na mesma proporção de sua influência. As pessoas realizam barbaridades ou ações mais simples, boas e más, sem ou com a influência e participação de outras pessoas, de forma que a responsabilidade se divide entre aqueles que deram vazão ao evento. Nada há que ficará escondida e sem sua devida responsabilização, a esperar dos seus realizadores a necessária retificação, renovação, reordenação ou atitude que venha a corrigir eventual erro praticado.
se observarmos atentamente, um determinado evento acabará tendo uma série de frentes de reajustamento, de forma que nunca somos os únicos credores das atitudes alheias, sentindo-nos únicas vítimas de determinada ação. Se cada pessoa recebe essas diversas frentes de retificação, eventual cobrança através da vingança acabará se constituindo em exasperação, até porque nunca saberemos realmente qual o grau de cobrança que tenho direito a “cobrar” do próximo.
A vingança acaba se constituindo em uma perda completa de tempo e de energia em desfavor de nós mesmos que perdemos a liberdade de agir conforme a lei, garantindo assim um futuro mais feliz, para nos sujeitar primeiro a “cobrar” com “juros e correção”, e depois a termos que “pagar” pela cobrança indevida.
Ainda precisamos lembrar que o “erro”, para a economia do universo criado por Deus, se constitui em um acidente de percurso para o espírito, tão comum e natural de acontecer como “acertar” já que em muitas situações – especialmente as novas – a proporção é bem similar e, quando a escolha se processa ainda no “erro” conhecido, não podemos esquecer as tendências e rotinas que imperam ainda dentro de nossa animalidade que nos direcionam em ações menos edificantes.
Compreendendo isso, fica claro que para alguém abandonar o “erro” necessitará do apoio das outras pessoas, que possam lhe oferecer outros caminhos para seus passos, e até ânimo para sua alma, de forma a ter o combustível psicológico e moral para agir de forma adequada. Esse apoio sempre nós damos a quem amamos, ou que tenhamos uma afinidade mais acentuada, mas quando não possuímos essa afinidade, geralmente, ofertamos a crítica e outras energias que não servem para apoio de uma transformação.
Aquele que tem a sabedoria de entender que estamos em processo evolutivo, sujeitos a imperfeição – todos nós -, perceberá o quanto precisamos do apóio mútuo para desenvolvermos nossas potencialidades individuais, especialmente quando a gente vem a cometer atitudes equivocadas ou que reconheçamos somente de algum tempo depois erradas. O perdão e a compreensão alheia pode ser a energia diferencial para nosso sucesso na nossa reabilitação.
E, porque não pensar isso quando temos o outro na nossa frente. Quando ao invés de sermos nós, é o outro que precisa do nosso apoio e do nosso perdão?
Desejar ser perdoado todo mundo deseja, como se isso fosse um direito pessoal que temos. E tem pessoas que em não sendo perdoadas, acabam irritando-se por conta disso. Mas e perdoar? E quando somos nós quem precisamos mostrar nosso desenvolvimento moral e espiritual? Será que podemos achar que temos o direito de não perdoar? Que não precisamos dar apoio ao que precisa?
Ao invés de julgarmos o próximo que erra, não é mais valioso espiritualmente acolhê-lo sem constrangimento ou qualquer condição imposta a ele pelo erro, esperando que sua inteligência deficitária com o erro se recomponha e encontre a solução mais adequada ao caso. É o abraço àquele que erra e oferece apoio moral que nos faz levantar e tentar novamente.
O melhor para nós é procurarmos nos afastar do mal, esquecendo-o mesmo. E ao agente que o pratica, mais adequado que nós o recebamos em nossos braços, compreendendo que nosso auxilio pode ser importante para que a pessoa encontre o caminho correto. O acolhimento também será fundamental para o não estabelecimento da culpa, mas sim da responsabilidade em relação a vida. De forma que essa nossa ação venha não apenas a fazer efeito em nós e no outro, mas pode ser um momento de estalecimento de vínculos indiretos com muitas outras pessoas.
O acolhimento daquele que erra acaba sendo uma forma de nós também compreendermos que tanto ele como eu podemos errar, e dá-nos coragem para continuar tentando, porque sabemos que a felicidade precisa ser alcançada pelo nosso esforço, e sabemos que nosso esforço com a confiança alheia faz o caminho ser mais suave e o sucesso ser mais certo.