No Reino da Palavra...

- Não grite.
Não permita que o seu modo de falar se
transforme em agressão.

- Conserve a calma.
Ao falar, evite comentários ou imagens
contrárias ao bem.

- Evite a maledicência.
Trazer assuntos infelizes à conversação,
lamentando ocorrências que já se foram, é requisitar
a poeira de caminhos já superados,
complicando paisagens alheias.

- Abstenha-se de todo adjetivo desagradável
para pessoas, coisas e circunstâncias.
Atacar alguém será destruir hoje o nosso
provável benfeitor de amanhã.

- Use a imaginação sem excesso.
Não exageres sintomas ou deficiências
com os fracos ou doentes, porque isso viria
fazê-los mais doentes e mais fracos.

- Responda serenamente em toda questão difícil.
Na base da esperança e bondade,
não existe quem não possa ajudar conversando.

- Guarde uma frase sorridente e amiga para
toda situação inevitável.
Da mente aos lábios, temos um trajeto
controlável para as nossas manifestações.

- Fuja a comparações, a fim de que seu
verbo não venha a ferir.
Por isso, tão logo a idéia negativa nos alcance
a cabeça, arredemo-la, porque um pensamento
pode ser substituído, de imediato, no silêncio
do espírito, mas a palavra solta é sempre um
instrumento ativo em circulação.

Recorde que Jesus legou o Evangelho,
exemplificando, mas conversando também.
ANDRÉ LUIZ



Distribui sorrisos e palavras de amor aos irmãos algemados a
rudes provas como se os visses falando por teus lábios, e
atravessarás os dias de tristeza ou de angústia com a luz da
esperança no coração, caminhando, em rumo certo, para o
reencontro feliz com todos eles, nas bênçãos de Jesus, em plena
imortalidade.

(Emmanuel).

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Casamento e Família




Casamento e Família

Benedita Fernandes / DivaldoFranco

Diante das contestações que se avolumam, na atualidade, pregando a reforma dos hábitos e costumes, surgem os demolidores de mitos e de Instituições, assinalando a necessidade de uma nova ordem que parece assentar as suas bases na anarquia.

A onda cresce e o tresvario domina, avassalador, ameaçando os mais nobres patrimônios da cultura, da ética e da civilização, conquistados sob ônus pesados, no largo processo histórico da evolução do homem.
Os aficionados de revolução destruidora afirmam que os valores ora considerados, são falsos, quando não falidos, e que os mesmos vêm comprimindo o indivíduo, a sociedade e as massas, que permanecem jungidos ao servilismo e à hipocrisia, gerando fenômenos alucinatórios e mantendo, na miséria de vários matizes, grande parte da humanidade.

Entre as Instituições que, para eles, se apresentam ultrapassadas, destacam o matrimônio e a família, propondo a promiscuidade sexual, que disfarçam com o nome de "amor livre", e a independência do jovem, imaturo e inconseqüente, sob a justificativa de liberdade pessoal, que não pode nem deve ser asfixiada sob os impositivos da ordem, da disciplina, da educação...

Excedendo-se, na arbitrariedade das propostas ideológicas ainda não confirmadas pela experiência social nem pela convivência na comunidade, afirmam que a criança e o jovem não são dependentes quanto parecem, podendo defender-se e realizar-se, sem a necessidade da estrutura familiar, o que libera os pais negligentes de manterem os vínculos conjugais, separando-se tão logo enfrentam insatisfações e desajustes, sem que se preocupem com a prole.

Não é necessário que analisemos os problemas existenciais destes dias, nem que façamos uma avaliação dos comportamentos alienados, que parecem resultar da insatisfação, da rebeldia e do desequilíbrio, que grassam em larga escala.
A monogamia é conquista de alto valor moral da criatura humana, que se dignifica pelo amor e respeito ao ser elegido, com ele compartindo alegrias e dificuldades, bem-estar e sofrimentos, dando margem às expressões da afeição profunda, que se manifesta sem a dependência dos condimentos sexuais, nem dos impulsos mais primários da posse, do desejo insano.

Utilizando-se da razão, o homem compreende que a vida biológica é uma experiência muito rápida, que ainda não alcançou biótipos de perfeição, graças ao que, é frágil, susceptível de dores, enfermidades, limitações, sendo, os estágios da infância como o da juventude, preparatórios para os períodos do adulto e da velhice.
Assim, o desgaste e o abuso de agora tornam-se carência e infortúnio mais tarde, na maquinaria que deve ser preservada e conduzida com morigeração.
Aprofundando o conceito sobre a vida, se lhe constata a anterioridade ao berço e a continuidade após o túmulo, numa realidade de interação espiritual com objetivos definidos e inamovíveis, que são os mecanismos inalienáveis do progresso, em cujo contexto tudo se encontra sob impositivos divinos expressos nas leis universais.

Desse modo, baratear, pela vulgaridade, a vida e atirá-la a situações vexatórias, destrutivas, constitui crime, mesmo quando não catalogado pelas leis da justiça, exaradas nos transitórios códigos humanos.
O matrimônio é uma experiência emocional que propicia comunhão afetiva, da qual resulta a prole sob a responsabilidade dos cônjuges, que se nutrem de estímulos vitais, intercambiando hormônios preservadores do bem estar físico e psicológico. Não é, nem poderia ser, uma incursão ao país da felicidade, feita de sonhos e de ilusões.

Representa um tentame, na área da educação do sexo, exercitando a fraternidade e o entendimento, que capacitam as criaturas para mais largas incursões na área do relacionamento social. Ao mesmo tempo, a família constitui a célula experimental, na qual se forjam valores elevados e se preparam os indivíduos para uma convivência salutar no organismo universal, onde todos nos encontramos fixados.

A única falência, no momento, é a do homem, que se perturba, e, insubmisso, deseja subverter a ordem estabelecida, a seu talante, em vãs tentativas de mudar a linha do equilíbrio, dando margem às alienações em que mergulha.

Certamente, muitos fatores sociológicos, psicológicos, religiosos e econômicos contribuíram para este fenômeno. Não obstante, são injustificáveis os comportamentos que investem contra as Instituições objetivando demoli-las, ao invés de auxiliar de forma edificante em favor da renovação do que pode ser recuperado, bem como da transformação daquilo que se encontre ultrapassado.

O processo da evolução é inevitável. Todavia, a agressão, pela violência, contra as conquistas que devem ser alteradas, gera danos mais graves do que aqueles que se buscam corrigir. O lar, estruturado no amor e no respeito aos direitos dos seus membros, á a mola propulsionadora do progresso geral e da felicidade de cada um, como de todos em conjunto.

Para esse desiderato, são fixados compromissos de união antes do berço, estabelecendo-se diretrizes para a família, cujos membros se voltam a reunir com finalidades específicas de recuperação espiritual e de crescimento intelecto-moral, no rumo da perfeição relativa que todos alcançarão.

Esta é a finalidade primeira da reencarnação.

A precipitação e desgoverno das emoções respondem pela ruptura da responsabilidade assumida, levando muitos indivíduos ao naufrágio conjugal e á falência familiar por exclusiva responsabilidade deles mesmos.

Enquanto houver o sentimento de amor no coração do homem --- e ele sempre existirá, por ser manifestação de Deus ínsita na vida --- o matrimônio permanecerá, e a família continuará sendo a célula fundamental da sociedade.

Envidar esforços para a preservação dos valores morais, estabelecidos pela necessidade do progresso espiritual, é dever de todos que, unidos, contribuirão para uma vida melhor e uma humanidade mais feliz, na qual o bem será a resposta primeira de todas as aspirações.

Reminiscência




REMINISCÊNCIA

Do Livro Falando à Terra, psicografia de Francisco Cândido Xavier
Medeiros e Albuquerque


O Brasil republicano vagia entre as faixa do berço, quando conheci Manuel Ramos, nome pelo qual designarei um amigo obscuro, que abracei pela primeira vez no curso de breve contenda com portugueses ilustres, a propósito de Floriano.

Comentávamos desfavoravelmente as atitudes cordiais do embaixador Camelo Lampreia, que primava pelo bom-senso, na conciliação dos elementos exaltados, ante os atos do Consolidador, quando um amigo brasileiro, justamente indignado, se prepara a revide de enormes proporções, de mundos cerrados e carantonha sombria. Assustado, procurava eu apartar os contendores, quando surge o Manuel, com a carcaça de um touro e com a alma de anjo, evitando o pugilato.

Conteve os antagonistas, qual se fora uma gladiador romano, habituado ao manejo de feras, e eu, tomado de simpatia, ofereci-lhe a mão, em sinal de reconhecimento, quando os ânimos irritados possibilitaram a conversa pacífica.

No amplexo amistoso, porém, observei que Manuel não era servidor comum, que se contentasse com a gorjeta ou com o elogio fácil.

Surpreendeu-me com o seu olhar indagador, a fixar-me insistentemente.
E quando preparei, intencional, as frases da despedida, o musculoso interventor da rixa inesperada me falou, sem preâmbulos:

Doutor Medeiros, poderá conceder-me uma palavrinha?

Quem não anuíra em ocasião como aquela?

O rapaz, contudo, foi breve. Biografou-se com simplicidade, através de informes curtos e francos.

Era empregado na cozinha de portugueses acolhedores, que o faziam encarregado da bacalhoada acessível à numerosa freguesia, em atividade regular no porto. Fluminense de origem, buscava o Rio com o sonho maravilhoso de todos os moços pobres do interior, que imaginam na metrópole o Eldorado das miragens de Orellana. Não conseguira, entretanto, senão a colocação humilde, em casa de pasto, embora vivesse de livro às mãos.
Estudava, estudava, mas... – salientava, desalentado – a sorte lhe fora incrivelmente adversa.
Onerado de compromissos, na órbita da família, vira o pai morrer, quase sem recursos, minado pela peste branca, e presenciara a loucura de sua mãe, desvairada de dor sobre o cadáver do companheiro e mais tarde internada, com ficha de indigente, em hospício da Capital.

Sobravam-lhe, ainda, quatro irmãs para cuidar.
Ganhava pouco e mal conseguia atender ao constante dreno doméstico. Agrupou em palavras rápidas e respeitosas diversas questões pequeninas que lhe apoquentavam a mente, detendo-se, porém, no caso materno, com minudências curiosas a lhe revelarem a grandeza do sentimento afetivo; e, por fim, imprimindo significativa reverência ao timbre de voz, pediu-me conselho, asseverando-se informado quanto aos meus estudos de magnetismo.
Não poderia, de minha parte, prestar-lhe socorro?
Reparando, talvez, a ponta de sarcasmo que me assomou ao sorriso de gozador impenitente, consertou o passo, acentuando que, se me não fosse possível a visita direta ao internato, a fim de aliviar-lhe a genitora doente, esperava que eu lhe desse, pelo menos, algumas noções alusivas ao assunto.
Ante a sinceridade cristalina e a beleza do devotamento filial que ele aparentava, por pouco lhe não pedi desculpas pela ironia silenciosa de momentos antes, e assenti.
Realmente, expliquei, não me confiava a experiências do teor daquela que me solicitava, mas dispunha de literatura valiosa e aproveitável.
Ceder-lhe-ia com prazer o material que desejasse.
Combinamos o encontro para o dia seguinte.
Apareceu Manuel, pontualmente, à entrevista, ouvindo-me, atencioso, como se ele estivesse à escuta de informações relativas a tesouros ocultos.
Acreditando falar muito mais comigo mesmo. Recordei, para começar, a figura de Mesmer.
Manuel, contudo, não se mostrou leigo no assunto, Frederico Mesmer era para ele velho conhecido. Reportou-se, de modo simples, às leituras em francês a que se consagrava
cada noite, em companhia de anônimo poliglota do subúrbio, e referiu-se à clínica do grande magnetizador na Place Vendôme, qual se houvera morado em Paris ao tempo de Luís XVI. Sabia quantos reveses o valoroso professor havia sofrido para provar as novidades científicas de que se sentia portador. O rapaz chegava a conhecer o texto do voto vencido, com o qual De Jussieu, o fundador da botânica moderna, se revelava o único amigo da verdade, na comissão indicada pela Sociedade Real de Medicina, a fim de apurar a realidade dos fenômentos magnéticos.
Agradavelmente surpreendido, senti-me à vontade no comentário aberto.
Recordei De Puységur, anotando-lhe os experimentos preciosos, quando, mordiscado de curiosidade, passeava no salão a gritar, inquieto, para os ouvidos de seus pacientes: -
“Dorme! Dome!”

E, num desfile de impressões do brasileiro que vive de frente para a Europa, falei-lhe de Braid, de Liébeault, Bernheim e Charcot, especificando as características das escolas de Nancy e de Paris.
Alinhei minhas próprias observações, e Manuel, então silencioso, me assinalava as palavras como se fora deslumbrado e ditoso devoto à frente de um semideus.
Recolheu, contente, a copiosa literatura em português e francês que lhe pus nas mãos ávidas e partiu.
De quando em quando me procurava, gentil, em visitas apressadas, a que, por minha vez, não prestava maior atenção.
A vida abriu-me caminho, por outros rumos, no seio do matagal, ao invés de seguir no curso de águas pacíficas humano, e, à maneira do seixo que rola para o mar, impulsionado pelos detritos que descem da serra, a golpes irresistíveis da enxurrada grossa, ao invés de seguir no curso de águas, pacíficas, avancei no tempo, através de peripécias mil, na política e na imprensa, incapaz de erguer-me à esfera transcendente das cogitações religiosas.
Quando, em 1916, voltei da Europa com largo programa de serviço pró-adesão do Brasil aos Aliados, na culminância da batalha jornalística, eis que me aparece o Manuel, em pleno escritório, num singular extravasamento de alegria.
Forçava portas e afrontara auxiliares neurastênicos para ver-me e apertar-me nos braços.
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros! Enfim! ... – clamava, ofegante – há quanto tempo, meu Deus! Há quanto tempo!...
Respondi-lhe ao abraço, com um sorriso forçado, porque nesse mesmo instante deveria avistar-me com Lauro Müller, a respeito de solenes decisões na campanha popular desencadeada.
Desejei provocar a retirada do importuno, que deixava transparecer nas bochechas de quarentão maduro aquela mesma alegria robusta do tempo de Floriano.
A conversação dele fazia-se absolutamente imprópria, a meu ver, em semelhante ocasião; entretanto, Manuel não me ofereceu qualquer oportunidade de censura cordial ao seu procedimento.
Eufórico, palavroso, desaparafusou a língua e narrou êxitos sobre êxitos.
O magnetismo desvendara-lhe estradas novas. Conseguira milagres. Mantinha correspondência ativa com estudiosos ilustres da França. Apresentava, garboso, conclusões próprias acerca do desdobramento da personalidade. Enfileirava apontamentos especiais sobre o sistema nervoso. Engalanava-se com dezenas de casos raríssimos de cura, inclusive o da própria genitora que se reequilibrara e ainda vivia.
E acrescentava informes, referentes ao jardim doméstico, sem me oferecer um minuto para qualquer consideração.
Casara-se. Possuía três filhos que pretendia apresentar-me. A esposa e ele
acompanhavam, carinhosamente, as minhas páginas em “A Noite”. Convidava-me a visitar-lhe a família, quando chega o recinto a ex-ministro, fitando-me com assombro, como se me surpreendesse na companhia de um louco.
O antigo quituteiro do restaurante português não se deu por achado ouvindo declinar o nome do respeitável político. Iluminaram-se-me os olhos, cobrou ânimo novo e, sem mais nem menos, recomendou-nos freqüência assídua às sessões espirituais a que se dedicava nas noites de terças e sextas-feiras, junto de amigos e estudantes do Evangelho, encarecendo a necessidade de homens espiritualizados na administração do País. Reportou-se a Bittencourt Sampaio com frases quentes de aplauso. Sacou do bolso, que denotava prolongada ausência da lavanderia, seboso maço de papéis e leu, em voz estentórica, a primeira mensagem de Bezerra de Menezes, no “Grupo Ismael”, através do médium Frederico Júnior, e, longe de parar, abriu diante de nós maltratado volume do Novo Testamento, combinando a leitura de alguns textos com as páginas de Allan Kardec, ao mesmo tempo que indagava de minhas impressões acerca da Casa dos Espíritos, em Paris.
Mastiguei uma resposta qualquer, e Manuel, absolutamente incapaz de entender a minha inadaptação às verdades de que se fizera pregoeiro, continuou exaltando os imperativos de renúncia e de sacrifício para nós ambos, como se fora trovejante doutrinador em praça pública.
E quando se inclinava no comentário de reencarnações passadas, afirmando ter vivido ao tempo de Gengis Khãn, mal sopitando a vergonha que aquela intimidade me provocava, recomendei-lhe silêncio em tom autoritário e descortês.
O pobre amigo empalideceu e, enquanto o ex-ministro de Venceslau Brás erguia para mim o olhar perscrutador, informei, implacável, indicando Manuel estarrecido:
Lauro, tenho aqui um ex-empregado requerendo nossos préstimos. Não é má pessoa, mas enlouqueceu de repente. Guarda a mania do espiritismo e eu desejava seus bons ofícios para que o infeliz obtivesse tratamento acessível na Praia Vermelha. Creio que não precisará do internato em regra, mas não pode prescindir de algum contacto com o hospício.
O grande político levou o caso a sério e respondeu sem hesitar:
Esteja descansado. Farei por ele quanto possa.
Nunca me esquecerei do olhar humilde que Manuel me dirigiu sem a menor reação, com duas grossas lágrimas, ao despedir-se cabisbaixo, sem mais uma palavra.
Depois, a vida continuou rolando, arrastando-me em seu torvelinho trepidante, mas o meu antigo aprendiz de magnetismo não mais me apareceu no caminho.
Política, jornalismo, aventuras...
Eis o sono, era a morte? Que sabia eu?

Compreendia apenas que não era mais possível brincar com a inteligência.
Indefinível pavor do desconhecido me assaltava o coração, afogado em lágrimas que eu não conseguia derramar.
Densa noite envolvera-me de súbito, e eu gritei com toda a força dos pulmões cansados, clamando por enfermagem e socorro, que se me afiguravam distanciados para sempre.
Em que tenebroso lugar minha voz vibraria agora, sem eco? que ouvidos me captariam as lamentações? Por quanto tempo supliquei apoio naquela posição de insegurança?
É inútil formular indagações a que não podemos responder.
Um instante surgiu, contudo, em que percebi junto de mim prateada luz.
Alguém se aproximava, dando-me a idéia de piedoso visitador, remanescente talvez de São Bernardo, o salvador de viajantes perdidos nas trevas.
Diante do meu deslumbramento, a claridade cresceu, cresceu, e uma voz, que jamais olvidei, saudou alegremente:
Doutor Medeiros! Doutor Medeiros!...
E o Manuel surgiu fulgurante de rara beleza, ante meus olhos assombrados, estendendome os braços fraternos.
Quietou-se-me, então, o raciocínio humano, apagaram-se-me os pruridos da inteligência.
Manuel, aureolado de sublimada luz, era para mim agora um verdadeiro redentor. Confieime ao seu carinho, copiando a rendição da criança assustada, que se refugia no seio materno, e uma vida nova começou para mim, somente imaginável por aqueles que sabem sobrepairar ao turbilhão de mentiras humanas, para escutarem, de alguma sorte, a mensagem renovadora dos companheiros que atravessaram a cinzenta e gelada fronteira do túmulo.

Centro Espírita - Valores Ignorados



CENTRO ESPÍRITA - VALORES IGNORADOS


Amigo, quais são os valores do Centro Espírita, em que está integrado?

Talvez pensemos nos prédios, nos móveis, nos livros da livraria, nos alimentos armazenados para a distribuição, e até na obra assistencial mantida pelo Centro. Ou até nos lembraremos da reunião de passes, da reunião mediúnica, das reuniões de estudos, das palestras, das mensagens e quem sabe… da fraternidade dos companheiros.

Mas o nosso pensamento começa já a perceber outros valores. Acho que podemos estendê-los aos espíritos amigos que ali trabalham.

Mas, quem sabe! Está no conteúdo doutrinário, na oportunidade de trabalho e crescimento que oferece… Quantos valores, afinal!...

Não tinha pensado em tantos…

Pois é, amigo leitor, o Centro Espírita possui muitos valores.

Materiais e espirituais. Desde as instalações físicas, à integração dos seus participantes, ao conhecimento que distribui, às bênçãos do trabalho que realiza, até à preservação do seu maior patrimônio – o conhecimento espírita!

Ignoramos tudo isso. Deixamos VALORES IGNORADOS passar, relegando muitas vezes a atividade do Centro para um plano secundário, quando ele e a sua programação devem merecer maior atenção na nossa dedicação. E sem prejuízo da família, mas com consciência de que o trabalho no Centro reverte, sem que o percebamos, em benefícios diretos para a família, pela própria natureza da sintonia.

Claro que quando sem os domínios da vaidade e do fanatismo.

Na verdade, o Centro Espírita deve ser uma extensão da nossa casa, de nossas famílias. O ambiente onde nos sentimos bem, onde buscamos o conforto e exercitamos a prática sadia da fraternidade, para reunir forças que transformem virtudes em hábitos na vida social fora de casa.

Mas, nem sempre acontece.

Existe a programação dos estudos e chegamos atrasados. Recebe-se a mensagem, o jornal ou o folheto, e colocasse no bolso para nem sequer ler, esquecendo-os… Programa-se uma palestra importante e nem vamos, alegando toda uma série de desculpas que demonstram a nossa indiferença.

LEVAMOS MUITAS VEZES O NOSSO QUILO DE ALIMENTOS (QUANDO LEVAMOS) PARA A CESTA DE ALIMENTOS, MAS TORNAMO-NOS INDIFERENTES AO ESFORÇO DA DIVULGAÇÃO DOUTRINÁRIA.

COMENTA-SE SOBRE DETERMINADO LIVRO E NEM PROCURAMOS SABER MAIS.

NÃO PRESTAMOS ATENÇÃO A DATAS E A FATOS HISTÓRICOS DA DOUTRINA, OU MESMO DA PRÓPRIA CASA, PASSANDO TUDO BATIDO. E QUANDO OUTRA CASA PROGRAMA ATIVIDADES, AGIMOS COMO QUEM DIZ QUE NADA TEM A VER COM O ASSUNTO, ESQUECENDO QUE A CAUSA É A MESMA: A DOUTRINA ESPÍRITA. E O QUE DIZER, ENTÃO, SOBRE O RELACIONAMENTO ENTRE OS PRÓPRIOS ESPÍRITAS. DEIXAMO-NOS LEVAR PELA CRÍTICA VAZIA, FOFOCA, INVEJA E CALÚNIA, COM DESDÉM PARA COM OS COMPANHEIROS REALMENTE INTERESSADOS, AGINDO EM DESACORDO COM O QUE APRENDEMOS E E ENGANOSAMENTE DIZEMOS SEGUIR.

São valores da Doutrina, do Centro que freqüentamos, e que tanto nos beneficia, mas, que relegamos para um plano secundário.

POR OUTRO LADO, ALÉM DE IGNORAR OS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS DA CODIFICAÇÃO, DESCONHECEMOS AS PÉROLAS DOS CLÁSSICOS DA DOUTRINA, COMO LÈON DENIS, FLAMMARION, ARTHUR CONAN DOYLE, VICTORIEN SARDOU, VICTOR HUGO, ROBERT OWEN, CESARE LOMBROSO, WILLIAM CROOKES, OLIVER LODGE, CAMILLE FLAMMARION, CHARLES RICHET, SCHIAPARELLI, CHIAIA, BROTASI, LOMBROSO, BOZZANO, JOHANN KARL FRIEDRICH ZÖLLNER, WILHELM EDWARD WEBER, SCHNEIBER, GUSTAV FRIEDRICH FECHNER ENTRE OUTROS. SEM FALAR DE HUMBERTO DE CAMPOS, YVONNE PEREIRA, ANDRÉ LUIZ, JOSÉ HERCULANO PIRES, ETC. ORA AÍ ESTÃO OS VALORES DA DOUTRINA.

Limitamo-nos a ler romances, pronunciar sobre os mais diversos assunto o famoso “Eu Acho”, sem nenhum conhecimento de causa, ir ao Centro uma ou duas vezes por semana, para ouvir, receber o passe, geralmente quando a dor bate, e continuar como antes, achando que já fizemos a nossa parte e que sabemos e dominamos tudo em relação ao Espiritismo, e contando com a proteção do Alto (diga-se que existe), e que afinal somos espíritas e tudo está bem e por aí vai…Não renunciamos a nada em favor do Espiritismo, ou melhor, em favor de nós mesmos mas exigimos tudo.

Mas, ocorre que a Humanidade aí está. Debate-se com problemas imensos que nem é preciso repetir…

Os valores permanecem em nossas mãos, parados, sem produzir como deveriam, como nos comprometemos antes, no plano espiritual.

Observemos melhor as nossas Casas Espíritas. Representam o esforço de muitos pioneiros e leais trabalhadores da Causa de Jesus, que em silêncio, nos legaram o que hoje temos.

MAS NÃO NOS LIMITEMOS APENAS À NOSSA CASA. OLHEMOS COM CARINHO O ESFORÇO DE OUTROS COMPANHEIROS, QUE ESTÃO REALMENTE INTERESSADOS EM CONSTRUIR COM RESPONSABILIDADE, SERIEDADE, EM BASES SÉRIAS, SEM PERSONALISMO, SEM A EVIDÊNCIA DO EU, NAS MAIS VARIADAS FUNÇÕES, SEM CIÚME, VAIDADE, DESPEITO OU INVEJA. A OBRA É DE TODOS, A OPORTUNIDADE É PARA TODOS, FAZ QUEM QUER OU PODE, E QUANTO MAIS FOR FEITO, POR MAIS PESSOAS, MELHOR PARA A HUMANIDADE.

ESTA É A LUTA DO PLANO ESPIRITUAL: A EXPANSÃO, ATRAVÉS DA DIVULGAÇÃO DE TODAS AS FORMAS, DO PENSAMENTO ESPÍRITA, PRINCIPALMENTE FORA DA CASA ESPÍRITA, EM TODOS OS SEGUIMENTOS DA SOCIEDADE, ESPIRITISMO QUE NÃO PERTENCE A NINGUÉM. ESTA EXPANSÃO BENEFICIARÁ TODA A HUMANIDADE SOFRIDA QUE DESCONHECE OS BÁLSAMOS QUE A DOUTRINA OFERECE.

Estejamos sintonizados neste ideal, seremos então mais coerentes conosco e com Deus. Sejamos pontes no movimento espírita, que unem, e não paredes que afastam.....

A QUEM A MUITO FOR DADO MUITO SERÁ COBRADO, DISSE JESUS.....

Problemas e Soluções




Problemas e Soluções

Livro: Busca e Acharás
André Luiz & Francisco Cândido Xavier

Se você está sob a pressão de algum problema, recorde que desespero ou desânimo não oferecem amparo algum.
Se a luta decorre da necessidade de recursos materiais, atenda ao equilibrio entre aquilo de que você dispõe e o que pretenda gastar, trabalhando mais, a fim de conseguir mais no setor de suas aquisições.
Se a doença lhe visita o corpo, use os meios justos que se lhe façam possíveis para reabilitá-lo, de vez que aflição inútil é sempre golpe fulminativo em você mesmo.

Chamo-me Amor!!!

QUANDO, nas horas de íntimo desgosto,
O desalento te invadir a alma
E as lágrimas te aflorarem aos olhos
Busca-Me: eu sou Aquele que sabe sufocar-te o pranto
E estancar-te as lágrimas;

QUANDO te julgares incompreendido pelos que te circundam
E vires que em torno a indiferença recrudesce,
Acerca-te de Mim: eu sou a LUZ,
Sob cujos raios se aclaram a pureza de tuas intenções
E a nobreza de teus sentimentos;

QUANDO se te extinguir o ânimo, as vicissitudes da vida,
E te achares na eminência de desfalecer,
Chama-Me: eu sou a FORÇA, capaz de remover-te as pedras dos caminhos
E sobrepor-te às adversidades do mundo;

QUANDO, inclementes, te açoitarem os vendavais da sorte
E já não souberes onde reclinar a cabeça,
Corre para junto de Mim: eu sou o REFÚGIO,
Em cujo seio encontrarás guarida para o teu corpo
E tranqüilidade para o teu espírito;

QUANDO te faltar a calma, nos momentos de maior aflição,
E te julgares incapaz de conservar a serenidade de espírito,
Invoca-Me:eu sou a PACIÊNCIA, que te faz vencer os transes mais dolorosos
E triunfar nas situações mais difíceis;

QUANDO te abateres nos paroxismos da dor
E tiveres a alma ulcerada pelos Abrolhos dos caminhos,
Grita por Mim: eu sou o BÁLSAMO, que te cicatriza as Chagas
E te minora os padecimentos;


QUANDO o mundo te iludir com suas promessas falazes
E perceberes que já ninguém pode inspirar-te confiança,
Vem a Mim: eu sou a SINCERIDADE,
Que sabe corresponder à fraqueza de tuas atitudes e à exelsitude de teus ideais;

QUANDO a tristeza e a melancolia te povoarem o coração
E tudo te causar aborrecimento,
Clama por Mim: eu sou a ALEGRIA,que te insufla um alento novo e te faz conhecer os encantos de teu mundo interior;

QUANDO, um a um, te fenecerem os ideais mais belos
E te sentires no auge do desespero,
Apela para Mim:eu sou a ESPERANÇA,
Que te robustece a fé e acalenta os sonhos;


QUANDO a impiedade se recusar a relevar-te as faltas
E experimentares a dureza do coração humano,
Procura-Me: eu sou o PERDÃO,
Que te eleva o ânimo e promove a reabilitação de teu espírito;


QUANDO duvidares de tudo, até de tuas próprias convicções,
E o ceticismo te avassalar a alma,
Recorre a Mim: eu sou a CRENÇA,
Que te inunda de luz o entendimento e te reabilita para a conquista da felicidade;


QUANDO já não aprovares a sublimidade de uma afeição sincera
E te desiludires do sentimento de seu semelhante,
Aproxima-te de Mim: eu sou a RENÚNCIA,
Que te ensina a olvidar a ingratidão dos homens
E a esquecer a incompreensão do mundo;

QUANDO enfim, quiseres saber quem Sou,
Pergunta ao Riacho que murmura e ao pássaro que canta,
à Flor que desabrocha e à estrela que cintila,
Ao moço que espera e ao velho que recorda.

Eu sou a dinâmica da Vida e a harmonia da Natureza;
Chamo-me
AMOR,
O remédio para todos os males que te atormentam o espírito.

Eu sou Jesus

Chico Xavier na Intimidade




Chico Xavier na intimidade

A ANALFABETA E A EDUCADA


O Chico passava defronte do Grupo Escolar de Pedro Leopoldo, quando uma das diretoras o chamou e lhe contou o seguinte:

— Hoje, pela manhã, apareceu aqui uma senhora mãe de um aluno preguiçoso e malcriado. Quando soube que seu filho fora reprovado e que sou uma das diretoras, sem deixar que eu lhe respondesse, desbocou-se:

— A senhora é uma diretora incompetente. Não pense que valha alguma coisa; não vale um vintém... nada. - Depois que esgotou seu repertório de insultos, concluiu, gritando para a rua toda ouvir:

— E não me diga nada, ouviu? Porque eu sou analfabeta, nada sei, não tenho obrigação de ser delicada. Mas a senhora é EDUCADA e espírita. Fique, pois, bem caladinha...

E partiu, deixando-me surpresa, e ao mesmo tempo tocada pelo inesperado da CONTENDA.

— Oremos, Chico, por nós e por ela, pois somos EDUCADOS e ESPÍRITAS.

— Sim, minha irmã, sabemos muito, já ganhamos muito. Oremos e vigiemos e que a lição nos sirva de remédio à doença da nossa vaidade...

Do livro "Chico Xavier na intimidade" – Ramiro Gama
Capítulo " A ANALFABETA E A EDUCADA "



Arrumando a casa (Centro Espírita)





Arrumando a casa (CENTRO ESPÍRITA)
Escrito por Jayme Lobato

Alguns diretores andavam preocupados com o ambiente da casa espírita. Em reunião de diretoria, Ernesto, o vice-presidente, abre a discussão, dirigindo-se ao presidente:

– Caro Germano! Precisamos trabalhar melhor a harmonia entre os trabalhadores do nosso centro. Acho que o ambiente do centro não anda bem.

– Mas, por que você diz isso, Ernesto?!

– Ora, companheiro! Há uma atmosfera de desconfiança, como se aqui, dentro da nossa casa, estivesse acontecendo um duelo. O que, a meu ver, não condiz com a proposta do Espiritismo.

– Será que os demais pensam também assim? Você, por exemplo, Guiomar, o que acha?

– Concordo com Ernesto, Germano. Precisamos fazer alguma coisa para modificar o clima de desarmonia que se está instalando em nosso meio e, obviamente, se refletindo nas reuniões mediúnicas. E o resultado disso, você bem sabe - não é bom.

O presidente, preocupado, então, pergunta:

– O que fazer, Guiomar, para mudar essa situação?

– Poderemos, a título experimental, implementar treinamentos para conscientizar o pessoal do centro da responsabilidade, de cada um, na formação de um ambiente fraterno e solidário.

– E você, Laura, o que diz?

– É notória, Germano, a falta de entrosamento entre os componentes de nossa casa. Não podemos mais ficar de braços cruzados, assistindo o ambiente de nosso centro se deteriorar. Penso, no entanto, que, cada um de nós, da diretoria, deve se compromissar com uma mudança radical de postura em nossa instituição.

– Como assim, Laura?

– Se nós, que pertencemos à diretoria, não nos entendemos, como vamos propor harmonização para os demais companheiros?

– E você acha que entre nós, diretores, há desentendimentos?

– Ah, Germano! Não se faça de ingênuo. Não é possível que você não perceba que alguns já formaram seus grupinhos e, por isso, nossa casa está dividida. E, como assegurou Jesus, uma casa dividida não se sustenta.

– Não é questão de ingenuidade ou não, Laura. Não posso acreditar que, numa casa espírita, haja desavenças que comprometam o trabalho.

– Mas, presidente, aqui não existem anjos, nem santos. Nós mesmos, espíritos faltosos e comprometidos com um passado difícil, aqui estamos, tentando nosso esclarecimento e reabilitação. E, por isso, não podemos deixar o centro à deriva.

Aí, intervém Ernesto:

– Por diversas vezes, Germano, tentei alertá-lo para os desvios a que nosso grupo estava se permitindo, com o seu aval. Mas você acha que eu sou muito rigoroso. E, afinal, chegamos a essa situação.

– Precisamos esclarecer melhor tudo isso – observa o presidente.

Então, Helena, resolve se pronunciar:

– Um dos problemas, Germano, é que na sua frente as pessoas se mostram de uma forma, mas, nas costas, a coisa se apresenta diferente.

– Isso é verdade. Há ainda aqueles que só mostram serviço na sua presença, Germano – afirma Guiomar.

– O problema é que alguns querem estar bem com o poder. E acham que um dos meios é concordar sempre com o presidente, mesmo nos seus enganos – fala Helena, que prossegue:

– Apesar de todo esclarecimento, através dos estudos, que a casa disponibiliza, Germano, muitos ainda acham que o presidente do centro é inspirado pelo Alto, em todas as suas atitudes. O que é um engano.

– Concordo com a Helena. A administração da casa espírita tem que ser discutida por nós, encarnados. Certamente que devemos rogar a ajuda do Alto para que saibamos conduzir bem o centro. Mas, a responsabilidade da direção é nossa – enfatiza Guiomar.

Helena, então, aproveita o momento e toca numa questão delicada:

– Há, também, presidentes que gostam de se verem privilegiados pelo Alto. E, até quando encontram resistência a alguma mudança de seu interesse, ao invés de discutirem a proposta, dizem que é recomendação dos Espíritos. E a medida se efetiva.

Ernesto pega carona na fala de Helena:

– Uma das questões que gera muito conflito, Germano, é que você quer agradar a todos. Não sabe dizer não. E isso, em várias ocasiões, foi o detonador de desentendimentos entre os trabalhadores do centro. Hilton, até então calado, aproveita para dar sua opinião:

– Caro Germano, não me leve a mal. Mas, no início do mandato você exercia uma liderança lúcida e ativa. Porém, a meu ver, com o tempo, você foi se permitindo uma de guru. E, o pior, um guru que quer agradar a todos.

– Mas, na função de presidente, Hilton, tenho que contemporizar certas situações. Não posso alimentar desavenças.

Helena, aí, adverte:

– Mas, também, caro amigo, não pode ficar em cima do muro, querendo agradar a gregos e troianos. A orientação de Jesus é para que nosso falar seja: sim, sim – não, não! Hilton assevera:

– Há muita fofoca, Germano, que chega aos seus ouvidos e que você deveria chamar os envolvidos para solucionar a questão. Mas, não! Fica sempre o dito pelo não dito. E tudo continua na mesma e gerando insatisfações constantes, que comprometem o ambiente do centro.

E Ernesto expressa sua impressão:

– Parece-me, às vezes, Germano, que você receia que as pessoas saiam do centro. E, por isso, não toma as atitudes devidas.

– De fato, Ernesto, tento fazer tudo para que os irmãos continuem conosco.

Guiomar questiona:

– Mesmo que insatisfeitos, presidente? E criticando, mordazmente, sua administração nos bastidores e, por outro lado, comprometendo a atmosfera psíquica do ambiente? .

– Não pensei que chegasse a tanto, Guiomar!

– E, não é só isso, querido! Pelo que percebo, há uma companheira insatisfeita, que está fazendo a cabeça de outras pessoas. E isso está criando um clima desfavorável em nossa casa.

Germano, mais que depressa, quer saber:

– Quem é essa pessoa?!

Laura volta à questão a que antes se referira:

– Antes de querermos saber quem é a pessoa, queridos amigos, precisamos fazer uma avaliação da nossa postura como diretores. Se não estamos comprometidos com o bem-estar moral e intelectual dos componentes da nossa casa espírita, como querer que outros estejam?

Helena concorda.

– Laura tem razão. Não adianta traçar normas para os outros, quando não estamos dando o exemplo.

– Se nós, diretores, não abraçamos a causa espírita com espírito de serviço, não há como constituir uma comunidade harmonizada – fala Ernesto.

– Acho que o personalismo tem gerado, entre nós, diretores, muita desavença – esclarece Hilton.

– Devemos nos interessar pelo progresso de nossa coletividade e não na projeção pessoal – propõe Helena.

– Por tudo que estou ouvindo, sinto que falhei na tarefa de dirigir o nosso centro. Acho que a minha renúncia à presidência da casa abriria possibilidades de colocar no lugar um companheiro que melhor possa conduzir a instituição.

É Ernesto que, inicialmente, discorda.

– Nada disso, Germano! Eu acho que é hora de todos nós, da diretoria, avaliarmos nossas atitudes e, juntos, se quisermos o bem de nossa casa, promovermos as mudanças necessárias no sentido de que o centro volte a ser operante e harmonioso como antes.

Helena concorda.

– Acho esta a melhor solução. Se o Germano errou, nós também erramos, pois, muitas vezes, nos omitimos por comodismo ou interesse. Sejamos sinceros nessa avaliação e na busca de solução para os problemas de nossa casa espírita e o Alto, certamente, nos apoiará.

– Temos que nos comprometer com um trabalho de equipe e não com posturas monolíticas, isoladas, que dividem a comunidade de nosso centro - diz Guiomar.

E os demais também se engajaram na nova proposta. Pelo clima de transparência e real desejo de servir à causa espírita, com que continuaram a discussão, já se podia prever um futuro de efetivo progresso para aquela casa espírita.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Jesus, Kardec e Nós




E - Cap. XVII - Item 8

Se Jesus considerasse a si mesmo puro demais, a ponto de não tolerar o contato das fraquezas humanas; se acreditasse que tudo deve correr por conta de Deus; se nos admitisse irremediavelmente perdidos na rebeldia e na delinqüência; se condicionasse o desempenho do seu apostolado ao apoio dos homens mais cultos; se aguardasse encosto dinheiroso e valimento político a fim de realizar a sua obra ou se recuasse, diante do sacrifício, decerto não conheceríamos a luz do Evangelho, que nos descerra o caminho à emancipação espiritual. °°° Se Allan Kardec superestimasse a elevada posição que lhe era devida na aristocracia da inteligência, colocando honras e títulos merecidos, acima das próprias convicções; se permanecesse na expectativa da adesão de personalidade ilustres à mensagem de que se fazia portador; se esperasse cobertura financeira para atirar-se à tarefa; se avaliasse as suas dificuldades de educador, com escasso tempo par esposar compromissos diferentes do magistério ou se retrocedesse, perante as calúnias e injúrias que lhe inçaram a estrada, não teríamos a codificação da doutrina Espírita, que complementa o Evangelho, integrando-nos na responsabilidade de viver. °°° Refletindo em Jesus e Kardec, ficamos sem compreender a nossa inconseqüência, quando nos declaramos demasiadamente virtuosos, ocupados, instruídos, tímidos , incapazes ou desiludidos para atender às obrigações que nos cabem na Doutrina Espírita. Isso porque se eles - o Mestre e o Apóstolo da renovação humana - passaram entre os homens, sofrendo dilacerações e exemplificando o bem, por amor à verdade, quando nós - consciências endividadas, fugimos de aprender e servir, em proveito próprio, indiscutivelmente, estaremos sem perceber, sob a hipnose da obsessão oculta, carregando equilíbrio por fora e loucura por dentro.

Traço Espírita



TRAÇO ESPÍRITA 

E - Cap.XVII - Item 7


O companheiro, contado na estatística da Nova Revelação, não pode viver de modo diferente dos outros, no entanto, é convidado pela consciência a imprimir o traço de sua convicção espírita em cada atitude. Trabalha - não ao jeito de pião consciente enrolado ao cordel da ambição desregrada, aniquilando-se sem qualquer proveito. Age construindo. Ganha - não para reter o dinheiro ou os recursos da vida na geladeira da usura. Possui auxiliando. Estuda - não para converter a personalidade num cabide de condecorações acadêmicas sem valor para a humanidade. Aprende servindo. Prega - não para premiar-se em torneios de oratória e eloqüência, transfigurando a tribuna em altar de suposto endeusamento. Fala edificando. Administra - não para ostentar-se nas galerias do poder, sem aderir à responsabilidade que lhe pesa nos ombros. Dirige obedecendo. Instrui - não para transformar os aprendizes em carneiro destinados à tosquia constante, na garantia de propinas sociais e econômicas. Ensina exemplificando. Redige - não para exibir a pompa do dicionário ou render homenagens às extravagâncias de escritores que fazem da literatura complicado pedestal para o incenso a si mesmos. Escreve enobrecendo. Cultiva a fé - não com o intento pretensioso de escalar o céu teológico pelo êxtase inoperante, na falsa idéia de caprichos e privilégios. Crê realizando. O espírita vive como vivem os outros, mas em todas as manifestações da existência é chamado a servir aos outros, através da atitude.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Examinemos a nós mesmo



Livro dos Espíritos 
Questão 919

O dever do espírita-cristão é tornar-se progressivamente melhor. Útil, assim, verificar, de quando em quando, com rigoroso exame pessoal, a nossa verdadeira situação íntima. Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário. Testa a paciência própria:
 - Estás mais calmo, afável e compreensivo? Inquire as tuas relações na experiência doméstica: 
- Conquistaste mais alto clima de paz dentro de casa? Investiga as atividades que te competem no templo doutrinário:
 - Colaboras com mais euforia na seara do Senhor? Observa-te nas manifestações perante os amigos: 
- Trazes o Evangelho mais vivo nas atitudes? Reflete em tua capacidade de sacrifício: 
- Notas em ti mesmo mais ampla disposição de servir voluntariamente? Pesquisa o próprio desapego: 
- Andas um pouco mais livre do anseio de influência e de posses terrestres? Usas mais intensamente os pronomes "nos", "nosso" e "nossa" e menos os determinativos "eu", "meu" e "minha"? Teus instantes de tristeza ou de cólera surda, às vezes tão conhecidos somente por ti, estão presentemente mais raros? Diminuíram-te os pequenos remorsos ocultos no recesso da alma? Dissipaste antigos desafetos e aversões? Superastes os lapsos crônicos de desatenção e negligência? Estudas mais profundamente a Doutrina que professas? Entendes melhor a função da dor? Ainda cultivas alguma discreta desavença? Auxilias aos necessitados com mais abnegação? 6 Tens orado realmente? Teus idéias evoluíram? Tua fé raciocinada consolidou-se com mais segurança? Tens o verbo mais indulgente, os braços mais ativos e as mãos mais abençoadoras? Evangelho é alegria no coração: 
- Estás, de fato,mais alegre e feliz intimamente, nestes três últimos anos? Tudo caminha! Tudo evolui! Confiramos o nosso rendimento individual com o Cristo! Sopesa a existência hoje, espontaneamente, em regime de paz, para que te não vejas na obrigação de sopesá-la amanhã sob o impacto da dor. Não te iludas! Um dia que se foi é mais uma cota de responsabilidade, mais um passo rumo à Vida Espiritual, mais uma oportunidade valorizada ou perdida. Interroga a consciência quanto à utilidade que vens dando ao tempo, à saúde e aos ensejos de fazer o bem que desfrutas na vida diária. Faze isso agora, enquanto te vales do corpo humano, com a possibilidade de reconsiderar diretrizes e desfazer enganos facilmente, pois, quando passares para o lado de cá, muita vez, já será mais difícil..

Espiritismo nas Opiniões




Quanto mais se agiganta a evolução na Terra, mais amplos se fazem os órgãos informativos. Em todos os lugares, autoridades pesquisam, confrontam, observam, conjeturam, e no fundo, é sempre o esclarecimento que surge, através da síntese, auxiliando o homem a escolher caminhos e selecionar atitudes. Serviços, ajustes, descobertas, fenômenos e técnicas, nos mais remotos setores do Planeta, pela força do livro e da escola, da imprensa e do rádio, da televisão e do cinema, entram nas interpretações da propaganda, sugerindo preceitos ou traçando soluções. Justa, dessa forma, a iniciativa de trazer a Doutrina Espírita à concorrência honesta das normas que as religiões e as filosofias apresentam às criaturas, no sentido de lhes facilitar a existência. Os espíritas, em todos os quadrantes da atividade terrestre, podem esculpir, sobretudo, nas próprias ações, o conceito espírita que lhes dirige as convicções. Certo, ao temos receitas de felicidade ilusória para dar e nem sabemos, rebaixar o céu ao nível do chão, mas dispomos dos recursos precisos à construção da felicidade e do céu, no reino interior pelo trabalho e pelo estudo, no auto-aperfeiçoamento. Aos que se mostrem decididos à realização espírita pelos testemunhos de Espiritismo realizado, convidamos à meditação no ensinamento libertador de Allan Kardec, sob a inspiração do Cristo, a fim de que possamos edificar a influência espírita, nos mecanismos do progresso e da cultura, não só para que o Espiritismo palpite, vibrante, no parque de opiniões da vida moderna, mas também para que as opiniões do Espiritismo sejam, lidas em nós. 

ANDRÉ LUIZ 
Uberaba, 2 de julho de 1963. ( Página recebido pelo médium Waldo Vieira )

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Auto Aperfeiçoamento








AUTO-APERFEIÇOAMENTO

Por Lúcio Roca Bragança

1. INTRODUÇÃO


O auto-aperfeiçoamento é o caminho que seguimos no estudo da doutrina espírita. O objetivo deste caminho é alcançar a nossa auto-realização, a consecução das nossas potencialidades de espíritos criados simples e ignorantes, mas plenamente perfectíveis[1]. Essa capacidade de nos auto-aperfeiçoarmos, de realizarmos uma mudança pessoal, é uma característica inerente à nossa condição de espíritos e possui tanto uma dimensão de consolação, como de comprometimento, pois, se é verdade que a mudança é possível – e as situações negativas são impermanentes – não é menos verdade que ela nos demanda esforço, disciplina e dedicação.
Esse primeiro aspecto é especialmente relevante: o autoaperfeiçoamento é possível – nós temos a capacidade de mudar – de modo que inexiste razão para julgarmos fixados em determinado estágio evolutivo. Se a mudança não fosse factível, Jesus não teria encarnado na Terra, nem pregado o Evangelho – seria uma tarefa inútil. Notadamente, na tradição sinóptica, a primeira atividade pública do Mestre foi dizer que o Reino de Deus está próximo,[2] ou seja, que ele pode ser alcançado, e, na tradição Joanina, foi a transformação de água em vinho[3]. A questão chegou a ser expressamente dita por Jesus, quando afirmou, no sermão da Montanha, “sede perfeitos”[4].
Já o segundo aspecto possui também grande relevância: é preciso saber o que fazer para alcançar a auto-realização; doutro modo, nossos esforços podem ser hercúleos e vãos – ou, no mínimo, desnecessariamente sofridos e vagarosos.
Neste passo, o presente trabalho pretende abordar o tema do auto-aperfeiçoamento sob o prisma da doutrina espírita, iniciando-se exatamente do ponto de partida, isto é, do estágio em que nos encontramos agora e no que consistem os obstáculos que dificultam o nosso progresso. Numa segunda etapa, examinamos qual é o caminho a ser seguido para alcançarmos a auto-perfeição e, por fim, as conclusões finais.

2. PONTO DE PARTIDA (SITUAÇÃO ATUAL)

1) Intróito

Há duas frases de Emmanuel que denotam de modo muito rico o ponto em que nos encontramos:

"Nossos pensamentos são paredes em que nos enclausuramos ou asas com que progredimos na ascese"[5].

"Presos ao labirinto criado por nós mesmos, eis­nos a reclamar o auxílio do Divino Mestre".[6]

O que há de notável nestas frases é que ambas fazem referência ao fato de estarmos presos e sermos nós mesmos os responsáveis por essa prisão. O aspecto da prisão é apenas uma parte de uma realidade mais ampla: não é apenas a nossa liberdade que é cerceada pelo nosso modo de operar a mente, mas a nossa própria realidade é construída pelo teor de nossos pensamentos, a ponto de podermos criar um mundo infernal ou celestial, como fica claro neste apontamento de André Luiz[7]:

“Os reflexos mentais, segundo a sua natureza, favorecem-nos a estagnação ou nos impulsionam a jornada para frente, porque cada criatura humana vive no céu ou no inferno que edificou para si mesma, nas reentrâncias do coração e da consciência, independentemente do corpo físico, porque, observando a vida em sua essência de eternidade gloriosa, a morte vale apenas como transição entre dois tipos da mesma experiência, no 'hoje imperecível'.”

Curial se faz, portanto, desvendar o processo de criação destas bolhas de realidade que criamos para nós e que podem resultar em um estado angustioso ou beatífico, o que nos propomos a fazer a partir do estudo de 3 capítulos do livro Nos Domínios da Mediunidade (Capítulos 7 a 9), através das realidades construídas por Libório, José Maria e Obsessor de Pedro.

2) Três Exemplos

No capítulo 7, temos a manifestação do espírito de Libório através da médium Eugênia, ocasião em que o desencarnado exterioriza seus pensamentos obsedantes pela mulher de sua paixão, chamada Sara. Destaca-se a seguinte frase[8]:

"Que irrisão! Não existem amigos quando a miséria está conosco... Dos companheiros que conheci, todos me abandonaram. Resta-me apenas Sara! Sara, que não deixarei..."

Já no capítulo 8, manifesta-se, através de Celina, o espírito de José Maria, antigo senhor de escravos desencarnado. Imerso em profundo desequilíbrio mental, fruto da crueldade com que tratava os cativos, expressa os seguintes termos[9]:

“Quem disse que a malfadada revolução dos franceses terá reflexos no Brasil? A loucura de um povo não pode alastrar-se a toda a Terra... Os privilégios dos nobres são invioláveis! Vêm dos reis, que são indiscutivelmente os escolhidos de Deus! Defenderemos nossas prerrogativas, exterminando a propaganda dos rebeldes e regicidas! Venderei meus escravos alfabetizados, nada de panfletos e comentários da rebelião. Como produzir sem o chicote no lombo? Cativos são cativos, senhores são senhores. E todos os fujões e criminosos conhecerão o peso dos meus braços... Matarei sem piedade. Cinco troncos de suplício! Cinco troncos! Eis aquilo de que necessito para refazer a nossa tranqüilidade.”

Por fim, o Capítulo 9 apresenta a história do obsessor de Pedro. Em sua última encarnação, Pedro fora seu irmão consanguíneo e, para seduzir a cunhada, fez internar o obsessor de hoje em um hospício, onde se quedou, aparvalhado até o desencarne. Desde então, manifesta ódio cruel e feroz por Pedro, a quem se dirigiu aos gritos[10]:

“Vingar-me-ei! Vingar-me-ei! Farei Justiça por minhas próprias mãos!”

3) Análise


Em todos esses 3 casos, há um mesmo padrão: incapacidade de examinar a própria conduta, a crença de que algo externo trará a salvação (ou que a manipulação de condições externas será determinante para o bem-estar) e a estreiteza da visão, caracterizada pela fixação em determinada idéia ou aspecto da realidade, criando uma posição mental rígida, inflexível, autocentrada e absolutamente insensível, ou mesmo de desprezo às outras pessoas. Essas são as circunstâncias que permeiam o inferno pessoal que esses indivíduos criaram para si. E é por esse mesmo padrão de conduta, em maior ou menor intensidade, que causa o sofrimento de que todos nós tantas vezes padecemos em um mundo de provas e expiações.
Mas são essas mesmas características, por todos nós compartilhadas, que nos levarão a transcender nossa condição atual de sofrimento e alcançar o estágio de angelitude. Pois vemos que, por mais equivocados que sejam os meios, há uma busca de valores legítimos em todos os três personagens: Libório busca o Amor, embora fixado na dependência por Sara; José Maria busca a Paz, ainda que através da mais cruel subjugação de todos à sua volta; o obsessor de Pedro, busca Justiça, embora através da aniquilação de um desafeto.
Os três personagens estão absolutamente convencidos da correção de suas razões – eles acham que estão certos em agir assim. Mas nós sabemos que se acham em uma busca distorcida por valores legítimos: obsessão não pode conduzir ao amor, subjugação não pode gerar paz e vingança não pode trazer justiça. Dentro da paisagem mental que criaram, permeada por um torvelinho de emoções desajustadas, os personagens enxergam os instrutores espirituais como inimigos e a tentativa de fazer o bem, como algo ameaçador[11]. Os instrutores, porém, conseguem, ver a natureza de luz por trás da conduta errática e em um dos casos (Libório), já conseguem conduzi-lo ao arrependimento. Como enxergar a natureza de luz e desconstituir a bolha de realidade em que nos encontramos serão os temas do capítulo seguinte.

3. SAÍDA (O CAMINHO)


1) Visão

Vimos, acima, como, no centro do sofrimento daqueles que penam está um modo equivocado de enxergar as coisas: aquilo que lhes parece bom (vingança, subjugação, vampirismo) é mau; aquilo que lhes parece mau (perdão, solidariedade, entrega) é bom. Essa ignorância das criaturas (que motivou as pungentes palavras de Cristo na cruz“perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”[12]) pode fazer com que passem incontáveis encarnações sem progredir, girando em círculos, por buscarem objetivos errados.
Daí a necessidade de alargarmos a nossa visão, o que deve ser feito através do estudo do Evangelho. Esse aspecto fica muito claro na seguinte fala do Cristo[13]:

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; “Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!”


O despertar desta nova visão é destacado por Jesus no episódio da pecadora que lhe verte ungüento[14], em contraponto à revolta dos discípulos que pretendiam ver o frasco vendido e o dinheiro distribuído aos pobres; mas Jesus os repreende, dizendo que “sempre tendes pobres convosco” e justifica a mulher dizendo que “amou muito”.
A cena é de uma profundidade e de uma sensibilidade tocantes. De fato, o que leva uma prostituta a reverenciar alguém sem dinheiro nenhum? O que leva alguém de vida mundana e carnal a homenagear um Mestre que diz que seu Reino não é deste mundo? Houve uma mudança de visão. Ela reconheceu em Jesus a luz da sua vida, a luz que ela precisava para encontrar a sua própria luz e dar sentido à sua existência. E essa mudança de visão lhe conduziu a exteriorizar todo o seu amor a Jesus (ainda que de uma forma um tanto física, certamente herança de seus condicionamentos inconscientes anteriores), ao passo que os discípulos estavam preocupados apenas com o aspecto exterior do dinheiro. Mas é o amor que muda o mundo e não o dinheiro – e enquanto faltar amor haverá pobres no mundo.
Com efeito, "o amor resume inteiramente a doutrina de Jesus”, como nos ensina Lázaro na Codificação de Kardec[15]. É o maior mandamento, que se divide em dois: amar a Deus com todas as nossas forças e amar o próximo como a si mesmo[16]. Se nós olharmos o mundo através das lentes do amor, nossos sofrimentos se extinguirão juntamente com todos os nossos problemas e perceberemos a beleza divina em tudo que nos cerca[17].
Um dos aspectos mais visíveis do amor é o nosso olhar de benevolência com as pessoas que nos cercam: vemos elas sofrendo por suas limitações e, sabendo que se trata de um estado transitório as ajudamos a ir adiante. A nossa capacidade de inclusão é a baliza de nosso progresso. Enquanto acharmos que alguém não é nosso irmão, que não merece ser perdoado, ou que não pode adentrar no Reino de Deus, nós também estaremos fora. A incapacidade de ver a natureza de luz no outro é a nossa própria impossibilidade de manifestar a nossa natureza de luz; com isso, vemos que a exclusão do outro e a nossa exclusão é a mesma coisa: se o outro está fora, nós também não estamos dentro[18]. Não por acaso, André Luiz registra amor e separação como opostos incompatíveis;[19] da mesma forma, Jesus enfatiza a unidade do todo, rejeitando o afastamento, a exclusão e a separação, ao dizer que “quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”[20]

2) Estabilização

Nada obstante, apenas reconhecer a importância do amor não é o suficiente, pois a compreensão, por si só, não elimina o impulso de ação incoerente a ela[21]. Essa percepção foi expressa de modo bastante categórico pelo Apóstolo Paulo in Romanos, 7, 19: “Não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero”[22].
E o que é que nos impede de, tantas vezes, resistirmos aos impulsos egoístas e de praticarmos o bem que queremos? Encontramos a resposta em André Luiz, quando diz que é preciso centrarmo-nos no esforço próprio, sem o que não conseguimos escapar das experiência pretéritas armazenadas no nosso inconsciente, nem por conseguinte, dos impulsos, hábitos e automatismos acumulados ao longo das encarnações[23]. A repetição do mesmo padrão de conduta gera reflexos condicionados, uma tendência de reagir automaticamente aos eventos sem nos guiarmos pelo domínio da consciência.[24]
Para deixarmos de obedecer cegamente nossos impulsos, e alcançarmos o autodomínio sobre o nosso fluxo mental desordenado, não podemos deixar de citar a questão 919 do Livro dos Espíritos[25]:
919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?


“Um sábio da antiguidade vo­lo disse: Conhece­te a ti mesmo.”

Um dos modos mais eficazes de nos autoconhecermos é prestarmos atenção aos nossos momentos de dor. A dor surge quando violamos as leis divinas que estão escritas em nossa própria consciência.[26] Portanto, é na dor que o insucesso de nossos desvios do Bem se revelam, o que permite que examinemos nossas falhas e limitações e, mais do que isso, percebamos a comprovação prática, na carne, de quais são as suas consequências. O conhecimento assim adquirido se incorpora indelevelmente ao nosso ser. Por isso, nenhuma racionalização poderá substituir a necessidade de sentir as emoções.
O caminho oposto é acharmos que não poderíamos ser a pessoa que somos, que apresentamos características inaceitáveis. A não-aceitação da dor e a busca do prazer é o caminho que sempre seguimos, de modo que o prosseguimento desta atitude agora, somente poderia alimentar a bagagem que já carregamos no inconsciente e reforçar as respostas impulsivas e automatizadas.[27] Quando negamos a nós mesmos, não nos tratamos com amor, nem poderemos tratar os outros com o amor; quando negamos a nós mesmos, negamos o amor. Isso explica o grande número de criaturas a vagar pelas ruas em atividade incessante, todas querendo tudo para si e desejando ser quem não são.
O resultado é a agressividade que ainda hoje vemos no mundo, pois as nossas emoções primárias não são destrutivas: somente quando evitamos o que está no nosso interior é que as nossas emoções tornam-se verdadeiramente nocivas para nós e para os outros. Um exemplo típico da tentativa de evitar vivenciar a emoção primária é a raiva: ganhamos uma energia extra e nos desviamos da causa dos nossos males.
Rompemos esse padrão quando aceitamos a dor que estamos sentindo, o que equivale a aceitar a pessoa que somos. Aceitar não significa concordar, nem se identificar. Também não significa cultivar o sofrimento ou a negatividade. A aceitação importa na transmutação, importa no amor. A dor é a porta de entrada para isso, pois a dor que estamos sentindo agora representa o exato estágio da transformação que somos capazes de fazer. E, no momento em que aceitamos quem somos agora, paradoxalmente já não somos mais os mesmos– pois a pessoa que éramos não aceitava.
Essa autoconfrontação diária dos nossos pensamentos com as nossas atitudes contraditórias, apregoada por Santo Agostinho no Livro dos Espíritos[28] se praticada com honestidade, somente pode nos levar ao progresso e à consolidação de nosso ideal de amor; porque temos a centelha divina em nós, as Leis de Deus estão escritas em nossas consciências e as experiências fora do amor nos são insatisfatórias.
Jesus estimulava-nos justamente a buscarmos dentro de nós esse potencial de que dispomos. Daí falar por parábolas, que exigiam uma verdadeira peregrinação interior, um autoquestionamento de valores, um desabrochar da verdade que já está em nós. No final da parábola do Bom Samaritano, o Mestre pergunta expressamente ao doutor da lei: que"lhe parece?”[29] Naturalmente, Jesus somente formula a pergunta porque julga-nos capazes de encontrar a resposta, mesmo que sejamos doutores da lei.

3. Ação


Na sequência da parábola, após o seu interlocutor responder, Jesus diz[30]: “Vai, e faze da mesma maneira”. Com isso, e em diversas outras passagens que expressam comandos ou mandamentos, Jesus deixa claro a necessidade de agir no mundo. Essa dupla face dos ensinamentos nos interessa: ao mesmo tempo em que falava por parábolas, oportunizando às pessoas descobrirem o ensinamento dentro de si, Jesus também dava instruções de como devemos nos conduzir em nossa encarnação.
E essas instruções podem ser resumidas em uma palavra: caridade. “A caridade é o amor que se materializa[31]”, são as nossas atitudes de generosidade, compaixão e interesse pelo bem-estar do próximo. Como disse Kardec[32], “A Caridade é a alma do espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.”
De fato, sem a caridade, todo o nosso conhecimento perderia a sua razão de ser, nem sequer poderia se chamar conhecimento, pois, o estudo da doutrina espírita (assim como nosso próprio autoconhecimento) revelam que saber e não praticar seria um contrassenso insolúvel, seria o mesmo que não saber. Além disso, a prática das ações caridosas possui uma dimensão de rearmonização, permitindo que nos reconciliemos com nossos desafetos, criando oportunidades benéficas para as pessoas que antes geramos prejuízos, adquirindo a bagagem necessária ao nosso progresso.
Assim, a caridade é uma prática que se faz necessária desde o início do caminho. Primeiramente, porque não há necessidade de aguardarmos a sabedoria, para podermos agir: todos temos condições de dar algo para alguém em necessidade, nem que seja um sorriso. Em segundo lugar, cria um círculo positivo com os estudos, em que ambos se reforçam, se complementam e se fundem.
Quando agimos verdadeiramente motivados por ver o bem-estar nos outros, o nosso modo de operar a mente se estabiliza, nos sentimos em paz e a caridade nos parece algo natural. Adquirimos novo entendimento sobre o que lemos, novas dimensões se desvelam e o que antes parecia não fazer sentido agora faz: uma nova consciência é alcançada.
Mas, naturalmente, ainda conservamos nossos impulsos cármicos e é preciso estudo e autoconhecimento para não nos desviarmos. Por isso, o Cristo não se limitava a ditar mandamentos, mas falava também por parábolas; por isso, o Espírito de Verdade disse “amai-vos” e “instruí-vos”[33].
Eventualmente, a nossa compreensão pode não acompanhar nossos esforços para a prática do bem; poderá parecer que estamos sempre nos esforçando, agindo de modo contrário ao que queremos, o que gera insatisfação e, por sua vez, mais esforço, aumentando a angústia, até que, enfim, desistimos. Isso acontece quando não temos uma motivação genuína em ajudar os outros, mas apenas nos esforçamos por seguir regras[34]. O esforço desmensurado e descuidado pode também conduzir ao fanatismo, onde as formas se agigantam, e o conteúdo se perde.
Para evitarmos essa situação, havemos de perseverar nos estudos, buscando o ponto de contato entre os ensinamentos e os nossos sentimentos até descobrirmos o que realmente nos faz feliz[35]. Também a oração é guia fiel para nos auxiliar na melhor maneira de ajudar nossos semelhantes, bem como para mantermos o pensamento em elevada vibração. Naturalmente, não a prece vulgar, auto-petitória, mas aquela “profunda”, em que nos entregamos até nossa alma “ficar alva e radiante de esperança e amor”[36]. Ademais, nossos rogos por bons conselhos constituem pedido de ajuda que não nos será jamais recusado.[37]
Por fim, nossa ação beneficente deve ser permeada pela humildade. Não praticamos a caridade para sobrepor a nossa vontade, nem para impor ao mundo um ideal próprio, mas porque temos consciência de que podemos ser um instrumento para o Bem Maior. Assim, embora busquemos sempre fazer o bem na maior medida possível, nos desapegamos dos resultados do nosso agir porque confiamos na bondade divina que rege o Universo e sabemos que até mesmo nossos fios de cabelos estão todos contados[38]. Ou como diz André Luiz, em uma das suas passagens mais densas e profundas, mas que devemos nos lembrar a todo o tempo[39]:

“Façamos todos o bem sem qualquer ansiedade. Semeemo-lo sempre e em toda a parte, mas não estacionemos na exigência de resultados. O lavrador pode espalhar as sementes a vontade e onde quer que esteja, mas precisa reconhecer que a germinação, o crescimento e o resultado pertencem a Deus.”

4. CONCLUSÃO

Os passos aqui sugeridos (visão, estabilização e ação) possuem caráter mais didático e não são lineares, mas, ao revés, se entremeiam: a ação pode reforçar a visão, para, então, mais facilmente se consolidar. Como diz Emmanuel, sob a epígrafe “Olhai, vigiai e orai[40]”, é preciso atentar que o “discípulo não pode guardar­se, defendendo simultaneamente o patrimônio que lhe foi confiado, sem estender a visão psicológica, buscando penetrar a intimidade essencial das situações e dos acontecimentos.”[41] Os três elementos coexistem em um estado de interdependência. Nós olhamos (ampliamos a visão), oramos (para estabilizá-la) e vigiamos (a conduta e os pensamentos, já que “quem pensa está fazendo alguma coisa alhures”)[42].
A Ministra Veneranda adverte que “a criação mental é quase tudo em nossa vida;”[43] nossos problemas começam com o nosso desconhecimento da nossa própria natureza de luz, que nos leva a adotar uma posição mental de carência (achamos que o que vem de fora pode nos suprir), o que gera um hábito de avidez, o qual, por sua vez, se exterioriza no mundo através de um padrão de atividade incessante. Criamos mentalmente uma visão de mundo em que somos carentes e, portanto, temos de receber nosso alento dos outros. Evidentemente, isso não pode dar certo, o que nos levará a reações com graus de agressividade variáveis, podendo até chegar, desafortunadamente, a conflitos bélicos.
Esse ciclo se quebra quando adotamos uma posição mental de generosidade, quando acreditamos que temos algo a dar, mais do que a receber; percebemos a situação de sofrimento das outras pessoas e brota (da nossa natureza crística) um desejo de ajudá-las. A posição mental de generosidade se exterioriza através de uma postura de caridade, de fazer atos para o bem das outras pessoas. Ambos os aspectos, interno (generosidade) e externo (caridade) se reforçam mutuamente, criando um ciclo positivo. Tivessem essa postura presente, e Libório não se veria emocionalmente dependente de Sara, José Maria não estaria cego por controle e obsessor de Pedro não estaria obcecado por vingança.
Para a consolidação desse processo, temos de ampliar a nossa visão para criarmos um campo mental próprio à sabedoria, ao amor à compaixão. Esse caminho exige de nós o que a maioria das pessoas, equivocadamente, pensa, quiçá por um medo irracional, que não pode dar: coragem de olhar para si, eliminação das dissimulações e a experiência da própria vulnerabilidade[44]. Com isso, ganhamos independência de nossos impulsos ancestrais e recuperamos a liberdade para agir no mundo sem estarmos presos a necessidades artificialmente criadas, carentes de bens e experiências incapazes de nos satisfazer, como se fôssemos vítimas da ansiedade que se retroalimenta de uma atividade incessante.
Já se disse que “a compaixão efetiva é uma forma de liberdade em relação ao autointeresse”[45]. Com efeito, a “compaixão é o indicativo de que surgiu alguma liberdade diante das prisões da nossa compreensão equivocada.”[46]Deste modo, quanto mais ampla a visão, maior a compaixão, o que faz com que menos tenhamos de agir para satisfazer auto-necessidades ilusórias, e mais liberdade tenhamos para agir no mundo em benefício das pessoas. Por conseguinte, menos sujeitos estaremos a incorrer em estados mentais de carência e de obsessões por vingança, controle, ou dependência emocional.
Essa é a verdadeira medida do nosso auto-aperfeiçoamento: a capacidade de ajudar as pessoas e enxergá-las com benevolência, a começar por nossa família até englobar toda a humanidade. Em verdade, essa é a nossa inclinação natural e os obstáculos que hoje nos impedem de agir assim são criações artificiais de nossa própria casa mental. Chegará o dia em que esses obstáculos cairão e fazer o bem será tão espontâneo e natural como o desenho que se forma das folhas caídas no chão de outono.

BIBLIOGRAFIA:
André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Nosso Lar. FEB, 61ª. ed..
André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Os Mensageiros. FEB, 45ª. ed..
André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Missionários da Luz. FEB, 43ª. ed..
André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. No Mundo Maior. FEB, 26ª. ed..
André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Nos Domínios da Mediunidade. FEB, 1ª. ed. especial.
André Luiz [Espírito], pelos Médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira. Mecanismos da Mediunidade. FEB, 28ª. ed..
Armond, Edgard. Mediunidade. Aliança, 6ª. ed..
Bíblia Sagrada, SBB, 2009.
Emmanuel [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Fonte Viva. FEB, 2008.
Emmanuel [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Vinhas de Luz, FEB, 2008.
Hammed, pelo médium Francisco do Espírito Santo Neto, Os Prazeres da Alma, Boa Nova, 9ª. ed..
Joana de Ângelis [Espírito], através da psicografia de Divaldo Pereira Franco. Amor, Imbatível Amor.Leal, 13ª. ed..
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. IDE, 182ª.ed..
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. EME, 22ª.ed..
Pastorino, Carlos Torres. Técnica da Mediunidade.s/d
Padma Samten. Mandala de Lótus. Peirópolis, s/d.
Pierrakos, Eva. O Caminho da Autotransformação. Cultrix, 2007.
Sobrinho, Geraldo Campetti (Coord.). Espiritismo de A a Z, FEB, 4ª. ed.

[1] LE, Q. 115.
[2] Mt 4, 17; Mc 1, 15.
[3] Jo 2, 1-12.
[4] Mt 5, 48.
[5] Fonte Viva, p. 146.
[6] Fonte Viva, p. 174.
[7] Nos Domínios da Mediunidade, p. 17.
[8] Op. Cit., p. 60.
[9] Op. Cit., p. 68.
[10] Op. Cit., p. 79.
[11] Para uma análise mais aprofundada de como o mundo externo espelha a paisagem mental do observador, vide os capítulos “Planos de Consciência” e “Localizações” da obra Técnica da Mediunidade de C. Torres Pastorino.
[12] Lc 23; 34.
[13] Mt 6, 22-23.
[14] Lc 7, 36 e ss.; Mt 26, 6 e ss.; Mc 14, 3 e ss.
[15] ESE, cap. 11, p. 118.
[16] Mc 12,30-31.
[17] Sobre a transformação que a espiritualização opera em nossa visão, até mesmo de uma laranja, vide Armond, Edgard. Mediunidade, Aliança, 6ª. ed., p. 33.
[18] Esse raciocínio sobre amor e exclusão pode ser encontrado in Mandala de Lótus, p. 105.
[19] Missionários da Luz, Cap. 9, p. 124.
[20] Mt 25, 40. No mesmo sentido: Jo 17,21.
[21] Mandala do Lótus, p. 99.
[22] Cf. Hammed, pelo médium Francisco do Espírito Santo Neto, Os Prazeres da Alma, p. 93.
[23] No Mundo Maior, p. 57 e 54.
[24] Sobre como os reflexos condicionados, nossos condicionamentos adquiridos ao longo das incontáveis encarnações afetam o nosso modo de operar e a dificuldade de sua libertação, vide, também de André Luiz, a obraMecanismos da Mediunidade, capítulos 11, 12 e 14.
[25] p. 286.
[26] LE, Q 614 e 621.
[27] Amor, Imbatível Amor, pelo Espírito Joana de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, p. 41.
[28] Q 919 b
[29] Lc 10, 36.
[30] Lc 10, 38.
[31] Jacintho, Roque. Intimidade. FEB, 3ª. ed., apud Sobrinho, Geraldo Campetti (Coord.). Espiritismo de A a Z, FEB, 4ª. ed., p. 110.
[32] Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita. Evandro Noleto Bezerra (Org.), FEB, 2005, apud Sobrinho, Geraldo Campetti (Coord.). Espiritismo de A a Z, FEB, 4ª. ed., p. 106.
[33] ESE, Cap. VI, p. 82.
[34] Mandala do Lótus, p. 99-101.
[35] Cf. ESE, Cap. XI, p. 123: “Tereis, contudo, razão, se afirmardes que a felicidade se acha destinada ao
homem nesse mundo, desde que ele a procure, não nos gozos materiais, sim no bem.”
[36] ESE, Cap. XXVII, p. 251.
[37] ESE, Cap. XXV, p. 235.
[38] Mt 10, 30.
[39] Os Mensageiros, p. 162.
[40] Mc 13, 33.
[41] Vinhas de Luz, FEB, 2008, Cap. 87, p. 97.
[42] André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Nosso Lar. FEB, 61ª. ed., p. 85.
[43] André Luiz [Espírito], pelo Médium Chico Xavier. Nosso Lar. FEB, 61ª. ed., p. 246.
[44] Pierrakos, Eva. O Caminho da Autotransformação. Cultrix, 2007, p. 27
[45] Mandala do Lótus, p. 98.
[46] Id., ibid.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Centros de Força




1) O que são centros vitais?

Os centros vitais são fulcros energéticos que, sob a direção automática da alma, imprimem às células a especialização extrema, que possibilita ao homem possuir um corpo denso. (1)

2) O que são os plexos?

Os plexos são redes de cordões vasculares ou nervosos, anastomosados e entrelaçados. Fala-se, também, de entrecruzamento imbicado.

3) O que são os centros de força?

Os centros de força são os receptores e transmissores de energia cósmica e espiritual. Eles são os alimentadores do metabolismo perispiritual.

4) Centros de força e chakras são a mesma coisa? Qual termo usar?

Sim. A palavra chakra é sânscrita e significa roda. Em Espiritismo, deveríamos optar por “centros de força”, pois este é o termo usado na literatura espírita, principalmente nos livros de André Luiz.

5) Onde estão localizados os centros de força?

Eles estão localizados no corpo espiritual. O corpo espiritual, ou perispírito, segundo o Espírito André Luiz, é "todo o equipamento de recursos automáticos que governam bilhões de entidades microscópicas, a serviço da inteligência".

6) Qual a relação entre centros de força e plexos?

Os plexos, redes de nervos entrelaçados, estão localizados no corpo físico. Os seus pontos correspondentes, localizados no corpo espiritual, são os centros de força. Nesse caso, há uma íntima relação entre os dois, pois o corpo físico influencia o corpo espiritual e, o corpo espiritual, por sua vez, influencia o corpo físico.

7) É possível ativar os centros de força? Como? É recomendável?

Sim. Figuradamente, os centros de força são compostos de vórtices, semelhantes a rodas. Para ativá-los, basta tentar deslocar esses vórtices, para a direita ou para a esquerda. Não é recomendável fazê-lo, pois, em virtude de nossa ignorância, podemos desequilibrar o nosso fluxo energético.

8) Qual é o principal centro de força?

É o coronário, que está localizado na região central do cérebro, e rege toda a atividade funcional dos órgãos. Além disso, supervisiona, também, os outros centros, todos interligados entre si.

9) Quais são os outros centros de força, denominados secundários? Para que servem?

Cerebral - contíguo ao coronário, governa o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, a atividade das glândulas endócrinas e do sistema nervoso;

Laríngeo - controla a respiração e a fonação;

Cardíaco - dirige a emotividade e as forças de base;

Esplênico - para as atividades do sistema hepático;

Gástrico - para a digestão e a absorção de alimentos;

Genésico - guia a modelagem de novas formas ou o estabelecimento de estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e à realização entre as almas (1).

10) Qual a função da glândula epífise?

Segundo o assistente Alexandre, em Missionários da Luz, o que para a medicina convencional representa controle, é fonte criadora e válvula de escapamento; enquanto as glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, a glândula pineal segrega "hormônios psíquicos". Ela conserva ascendência em todo o sistema endocrínico. (2)

10) Para pensar: os centros de força adoecem?

Bibliografia Consultada
(1) Luiz, A. Evolução em Dois Mundos, cap. II.
(2) Luiz, A. Missionários da Luz, cap. III.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

Médiuns Sensacionalistas




A frase de João Batista: "É necessário que Ele cresça, e que eu diminua", tem atualidade no comportamento dos médiuns de todas as épocas, especialmente em nossos dias tumultuados.

À semelhança do preparador das veredas, o médium deve diminuir, na razão direta em que o serviço cresça, controlando o personalismo, a fim de que os objetivos a que se entrega assumam o lugar que lhes cabe.
A mediunidade é faculdade neutra, a que os valores morais do seu possuidor oferecem qualificação.

Posta a serviço do sensacionalismo entorpece os centros de registro e decompõe-se. Igualmente, em razão do uso desgovernado a que vai submetida, passa ao comando de Entidades, perversas e frívolas, que se comprazem em comprometer o invigilante, levando-o a estados de desequilíbrio como de ridículo, por fim, ao largo do tempo, empurrando o médium para lamentáveis obsessões.

Entre os gravames que a mediunidade enfrenta, a vaidade e o personalismo do homem adquirem posição de relevo, desviando-o do rumo traçado, conduzindo-o ao sensacionalismo inquietante e consumidor.

Neste caso. o recolhimento, a serenidade e o equilíbrio que devem caracterizar o comportamento psíquico do médium cedem lugar à inquietação, à ansiedade, aos movimentos irregulares das atrações externas, passando a sofrer de irritação, devaneios, e à crença de que repentinamente se tornou pessoal especial, irrepreensível e irreprochável, não tendo ouvidos para a sensatez nem discernimento para a eqüidade.

Torna-se absorvido pelos pensamentos de vanglória, e, disputado pelos irresponsáveis que lhe incensam o orgulho, levam-no à lenta alucinação, que o atira ao abismo da loucura.

A faculdade mediúnica é transitória como outra qualquer, devendo ser preservada mediante o esforço moral de seu possuidor, assim tornando-se simpático aos Bons Espíritos que o inspiram à humildade, à renuncia, à abnegação.

Quando ao personalismo sensacionalista domina o psiquismo do homem, naturalmente que o aturde, tornando-se mais grave nos sensores mediúnicos cuja constituição delicada se desarticula ao impacto dos choques vibratórios dos indivíduos desajustados e das massas esfaimadas, insaciadas, sempre à cata de novidades e variações, sem assumirem compromissos dignificantes.

S. João Bosco, portador de excelentes faculdades mediúnicas, resguardava-as da curiosidade popular, utilizando-as com discrição nas finalidades superiores.

Santa Brigida, da Suécia, que possuía variadas expressões mediúnicas, mantinha o pudor da humildade, ao narrar os fenômenos de que se fazia objeto.

José de Anchieta, médium admirável e curador eficiente, agia com equilíbrio cristão, buscando sempre transferir para Jesus os resultados das suas ações positivas.

S. Pedro de Alcântara, virtuoso médium possuidor de vários "dons", ocultava-os, a fim de servir, apagado, enquanto o Senhor, por seu intermédio, se engrandecia.

Santa Clara de Montefalco procurava não despertar curiosidade para os fenômenos mediúnicos de que era instrumento, atribuindo-os todos à graça divina de que se reconhecia sem merecimento.

Os médiuns que cooperaram na Codificação do Espiritismo, sensatamente anularam-se, a fim de que a Doutrina fixasse nas almas e vidas as bases da verdade e do amor como formas para a aquisição dos valores espirituais libertadores.

Todo sensacionalismo altera a face do fato e adultera-lhe o conteúdo.

Quando este se expressa no fenômeno mediúnico corrompe-o, descaracteriza-o e põe-no a serviço da frivolidade.

Todos quantos se permitiram, na mediunidade, o engano do sensacionalismo, não obstante as justificações sob as quais se resguardam, desceram as rampas do fracasso, enganados e enganando aqueles que se deixaram fascinar pelos seus espetáculos, nos quais, o ridículo passou a figurar.

O tempo, este lutador incessante, encarrega-se de aferir os valores e demonstrar que a "árvore" que o Pai não plantou "termina" por ser arrancada.

Quando tais aficionados da mediunidade bulhenta se derem conta do erro, caso isto venha acontecer, na Terra, possivelmente, o caminho de retorno à sensatez estará muito longo e o sacrifício para percorrê-lo os desencorajará.

Diante do sensacionalismo mediúnico, recordemo-nos de Jesus, que após os admiráveis fenômenos de socorro às massas jamais aceitava o aplauso, as homenagens e gratulações dos beneficiários, recolhendo-se à solidão para, no silêncio, orar, louvando e agradecendo ao Pai, a Eterna Fonte geradora do Bem.

Mensagem psicografada por Divaldo P. Franco em 1989, transcrita em o Reformador.



LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...