Arrumando a casa (CENTRO ESPÍRITA)
Escrito por Jayme Lobato
Alguns diretores andavam preocupados com o ambiente da casa espírita. Em reunião de diretoria, Ernesto, o vice-presidente, abre a discussão, dirigindo-se ao presidente:
– Caro Germano! Precisamos trabalhar melhor a harmonia entre os trabalhadores do nosso centro. Acho que o ambiente do centro não anda bem.
– Mas, por que você diz isso, Ernesto?!
– Ora, companheiro! Há uma atmosfera de desconfiança, como se aqui, dentro da nossa casa, estivesse acontecendo um duelo. O que, a meu ver, não condiz com a proposta do Espiritismo.
– Será que os demais pensam também assim? Você, por exemplo, Guiomar, o que acha?
– Concordo com Ernesto, Germano. Precisamos fazer alguma coisa para modificar o clima de desarmonia que se está instalando em nosso meio e, obviamente, se refletindo nas reuniões mediúnicas. E o resultado disso, você bem sabe - não é bom.
O presidente, preocupado, então, pergunta:
– O que fazer, Guiomar, para mudar essa situação?
– Poderemos, a título experimental, implementar treinamentos para conscientizar o pessoal do centro da responsabilidade, de cada um, na formação de um ambiente fraterno e solidário.
– E você, Laura, o que diz?
– É notória, Germano, a falta de entrosamento entre os componentes de nossa casa. Não podemos mais ficar de braços cruzados, assistindo o ambiente de nosso centro se deteriorar. Penso, no entanto, que, cada um de nós, da diretoria, deve se compromissar com uma mudança radical de postura em nossa instituição.
– Como assim, Laura?
– Se nós, que pertencemos à diretoria, não nos entendemos, como vamos propor harmonização para os demais companheiros?
– E você acha que entre nós, diretores, há desentendimentos?
– Ah, Germano! Não se faça de ingênuo. Não é possível que você não perceba que alguns já formaram seus grupinhos e, por isso, nossa casa está dividida. E, como assegurou Jesus, uma casa dividida não se sustenta.
– Não é questão de ingenuidade ou não, Laura. Não posso acreditar que, numa casa espírita, haja desavenças que comprometam o trabalho.
– Mas, presidente, aqui não existem anjos, nem santos. Nós mesmos, espíritos faltosos e comprometidos com um passado difícil, aqui estamos, tentando nosso esclarecimento e reabilitação. E, por isso, não podemos deixar o centro à deriva.
Aí, intervém Ernesto:
– Por diversas vezes, Germano, tentei alertá-lo para os desvios a que nosso grupo estava se permitindo, com o seu aval. Mas você acha que eu sou muito rigoroso. E, afinal, chegamos a essa situação.
– Precisamos esclarecer melhor tudo isso – observa o presidente.
Então, Helena, resolve se pronunciar:
– Um dos problemas, Germano, é que na sua frente as pessoas se mostram de uma forma, mas, nas costas, a coisa se apresenta diferente.
– Isso é verdade. Há ainda aqueles que só mostram serviço na sua presença, Germano – afirma Guiomar.
– O problema é que alguns querem estar bem com o poder. E acham que um dos meios é concordar sempre com o presidente, mesmo nos seus enganos – fala Helena, que prossegue:
– Apesar de todo esclarecimento, através dos estudos, que a casa disponibiliza, Germano, muitos ainda acham que o presidente do centro é inspirado pelo Alto, em todas as suas atitudes. O que é um engano.
– Concordo com a Helena. A administração da casa espírita tem que ser discutida por nós, encarnados. Certamente que devemos rogar a ajuda do Alto para que saibamos conduzir bem o centro. Mas, a responsabilidade da direção é nossa – enfatiza Guiomar.
Helena, então, aproveita o momento e toca numa questão delicada:
– Há, também, presidentes que gostam de se verem privilegiados pelo Alto. E, até quando encontram resistência a alguma mudança de seu interesse, ao invés de discutirem a proposta, dizem que é recomendação dos Espíritos. E a medida se efetiva.
Ernesto pega carona na fala de Helena:
– Uma das questões que gera muito conflito, Germano, é que você quer agradar a todos. Não sabe dizer não. E isso, em várias ocasiões, foi o detonador de desentendimentos entre os trabalhadores do centro. Hilton, até então calado, aproveita para dar sua opinião:
– Caro Germano, não me leve a mal. Mas, no início do mandato você exercia uma liderança lúcida e ativa. Porém, a meu ver, com o tempo, você foi se permitindo uma de guru. E, o pior, um guru que quer agradar a todos.
– Mas, na função de presidente, Hilton, tenho que contemporizar certas situações. Não posso alimentar desavenças.
Helena, aí, adverte:
– Mas, também, caro amigo, não pode ficar em cima do muro, querendo agradar a gregos e troianos. A orientação de Jesus é para que nosso falar seja: sim, sim – não, não! Hilton assevera:
– Há muita fofoca, Germano, que chega aos seus ouvidos e que você deveria chamar os envolvidos para solucionar a questão. Mas, não! Fica sempre o dito pelo não dito. E tudo continua na mesma e gerando insatisfações constantes, que comprometem o ambiente do centro.
E Ernesto expressa sua impressão:
– Parece-me, às vezes, Germano, que você receia que as pessoas saiam do centro. E, por isso, não toma as atitudes devidas.
– De fato, Ernesto, tento fazer tudo para que os irmãos continuem conosco.
Guiomar questiona:
– Mesmo que insatisfeitos, presidente? E criticando, mordazmente, sua administração nos bastidores e, por outro lado, comprometendo a atmosfera psíquica do ambiente? .
– Não pensei que chegasse a tanto, Guiomar!
– E, não é só isso, querido! Pelo que percebo, há uma companheira insatisfeita, que está fazendo a cabeça de outras pessoas. E isso está criando um clima desfavorável em nossa casa.
Germano, mais que depressa, quer saber:
– Quem é essa pessoa?!
Laura volta à questão a que antes se referira:
– Antes de querermos saber quem é a pessoa, queridos amigos, precisamos fazer uma avaliação da nossa postura como diretores. Se não estamos comprometidos com o bem-estar moral e intelectual dos componentes da nossa casa espírita, como querer que outros estejam?
Helena concorda.
– Laura tem razão. Não adianta traçar normas para os outros, quando não estamos dando o exemplo.
– Se nós, diretores, não abraçamos a causa espírita com espírito de serviço, não há como constituir uma comunidade harmonizada – fala Ernesto.
– Acho que o personalismo tem gerado, entre nós, diretores, muita desavença – esclarece Hilton.
– Devemos nos interessar pelo progresso de nossa coletividade e não na projeção pessoal – propõe Helena.
– Por tudo que estou ouvindo, sinto que falhei na tarefa de dirigir o nosso centro. Acho que a minha renúncia à presidência da casa abriria possibilidades de colocar no lugar um companheiro que melhor possa conduzir a instituição.
É Ernesto que, inicialmente, discorda.
– Nada disso, Germano! Eu acho que é hora de todos nós, da diretoria, avaliarmos nossas atitudes e, juntos, se quisermos o bem de nossa casa, promovermos as mudanças necessárias no sentido de que o centro volte a ser operante e harmonioso como antes.
Helena concorda.
– Acho esta a melhor solução. Se o Germano errou, nós também erramos, pois, muitas vezes, nos omitimos por comodismo ou interesse. Sejamos sinceros nessa avaliação e na busca de solução para os problemas de nossa casa espírita e o Alto, certamente, nos apoiará.
– Temos que nos comprometer com um trabalho de equipe e não com posturas monolíticas, isoladas, que dividem a comunidade de nosso centro - diz Guiomar.
E os demais também se engajaram na nova proposta. Pelo clima de transparência e real desejo de servir à causa espírita, com que continuaram a discussão, já se podia prever um futuro de efetivo progresso para aquela casa espírita.
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